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Rastreamento de LADA em adultos com diabetes
Escrito por
Ícaro Sampaio
Publicado em
18/12/2024
O diabetes mellitus (DM) de etiologia autoimune, que inclui diabetes tipo 1 (DM1) e LADA, está classicamente associado ao início na infância. Por outro lado, fatores como obesidade e idade mais avançada no início da doença geralmente estão associadas ao DM tipo 2. Entretanto tais associações tem sido questionadas. Mais da metade dos novos diagnósticos de diabetes autoimune são feitos em pessoas com mais de 20 anos, e aproximadamente 90% não têm histórico familiar da doença. O LADA é responsável por 2% a 12% de todos os pacientes com diabetes de início na idade adulta.
Paciente com LADA apresentam fisiopatologia muito semelhante ao DM1, mas do ponto de vista clínico são, pelo menos inicialmente, indistinguíveis do DM2. A progressão mais lenta do LADA leva a apresentações mais tardias (geralmente após os 30 anos) em pacientes frequentemente com sobrepeso, que podem responder temporariamente a medicamentos orais para controle da glicemia. Por outro lado, pacientes com DM1 geralmente são diagnosticados na adolescência, com IMC normal ou baixo. Tais pacientes tendem a se apresentar de forma mais aguda, com sintomas exuberantes (ex.: cetoacidose diabética) e necessitam de insulina desde o momento do diagnóstico.
Tanto o DM1 quanto o LADA estão fortemente associados a autoanticorpos, como anti-GAD e anti-insulina, por exemplo. O peptídeo C, um polipeptídeo liberado quando o corpo produz insulina endógena, é baixo no diabetes automine à medida que a doença progride, mas é tipicamente normal ou alto no DM2. O peptídeo C deve ser medido em jejum e sem o uso de certos medicamentos que possam afetar os resultados (ex.: insulina, sulfonilureias, agonistas do receptor GLP-1, inibidores da DPP-4).
Pacientes que apresentam características de alto risco para diabetes autoimune devem passar por uma triagem para autoanticorpos anti-GAD. Se positivo, a medição do nível de peptídeo C em jejum deve ser realizada para orientar os próximos passos no manejo. Um artigo publicado recentemente no JAMA Internal Medicine discute estratégias para rastreamento do diabetes autoimune e manejo de pacientes com anti-GAD positivo de acordo com os níveis de peptídeo C.
*As modificações nas diretrizes para diabetes tipo 2 (DM2) em pacientes com níveis de peptídeo C superiores a 0,91 e inferiores a 2,11 ng/mL incluem:
• Repetir a medição do peptídeo C a cada 6 meses;
• Em casos de piora glicêmica, considerar fortemente a terapia com insulina;
• Evitar medicamentos orais que podem piorar a função das células β (por exemplo, sulfonilureias)
Os autores reforçam que um diagnóstico adequado e oportuno pode permitir o controle intensivo da glicemia desde cedo. O efeito legado sugere que esse benefício pode persistir por anos, até mesmo décadas. Por outro lado, um diagnóstico inicial incorreto pode alterar significativamente a trajetória clínica do paciente, impactando a morbidade e a mortalidade.
Referência: Keller CL, Yelamanchili A, Concejo BÁ. Early Screening for Latent Autoimmune Diabetes in Adults to Improve Care—Beyond the Routine. JAMA Intern Med. Published online December 16, 2024. doi:10.1001/jamainternmed.2024.6770