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Recém-nascidos e lactentes recebem orientação de suplementação de ferro nos primeiros dois anos de vida para reduzir o risco de anemia ferropriva. Porém, a venda sem prescrição médica e o fácil acesso a esses produtos nas farmácias podem colocar em risco a vida dessas crianças.
Não é incomum os pais se confundirem e darem doses excessivas de ferro. Enquanto a dose terapêutica é habitualmente até 6mg/kg/dia, a dose tóxica é a partir de 30mg/kg/dia. Isso pode ocorrer com apresentações com concentrações distintas dos habituais (em geral no máximo de 2,5mg ferro elementar por gota) ou por manipulação errada desse medicamento.
A dosagem sérica do ferro definirá a gravidade dos sintomas e a conduta. Caso o ferro seja <55μmol/L não há risco de toxicidade e só deve observar. Entre 55 a 90μmol/L requer observação hospitalar por 24 horas, e acima de 90μmol/L é indicado iniciar quelante endovenoso contínuo.
Porém, em crianças menores de 6 anos está descrito que o contato de 1 a 2 mL dessa substância na mucosa oral ou nasal já é suficiente para causar intoxicação aguda, potencialmente grave. Aproximadamente uma hora após o contato com a nafazolina, a criança pode exibir sinais inespecíficos, tais como: hipotermia, taquicardia, sudorese e sonolência. Casos mais graves podem evoluir para depressão respiratória e coma superficial.
A suspeita clínica dependerá exclusivamente de uma anamnese detalhada e confirmando o uso de doses altas de ferro. Os sintomas tendem a aparecer a partir de 6 horas da ingesta, causando erosão da mucosa gastrintestinal, o que se manifesta com vômitos, desidratação e melena. Por vezes, o paciente chega desidratado grave e requer expansão com 20mL/kg de soro fisiológico.
Entre 6 e 24 horas da ingesta, o paciente pode piorar o quadro clínico, apresentando acidose metabólica, hiperventilação, oligúria, hiperglicemia e leucocitose. É nesse momento que se deve iniciar o quelante de ferro, deferoxamina na dose de 15mg/kg/h EV contínuo, até normalização dos sintomas e do nível sérico do ferro.
Por último, caso os níveis séricos permaneçam elevados, o paciente poderá evoluir para um quadro grave composto por falência hepática, renal e choque refratário, com elevado risco de óbito.
É fundamental alertar aos pais que sigam exatamente a prescrição médica, de modo a evitar intoxicação por ferro.