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Quando indicar suplementação de ferro na insuficiência cardíaca? E eritropoetina?
Escrito por
Jefferson Vieira
Publicado em
5/5/2017
A deficiência de ferro é um achado comum em doenças crônicas como a insuficiência cardíaca (IC), sendo preditor de pior prognóstico mesmo na ausência de anemia. Dois recentes ensaios clínicos apresentados no AHA 2016 Scientific Sessions demonstraram a superioridade da suplementação endovenosa de ferro quando comparada com a via oral em pacientes com ICFER e deficiência de ferritina (<100µg/L ou 100-299µg/L se saturação de transferrina <20%). O estudo IRONOUT-HF avaliou a suplementação oral com polissacarídeo de ferro e não observou diferença nos desfechos de VO2 em ergoespirometria, capacidade aeróbica submáxima ou dosagem de BNP ao fim de 16 semanas. O estudo EFFECT-HF avaliou a suplementação endovenosa de carboximaltose férrica contra tratamento convencional (com ferro oral à critério do médico assistente) e demonstrou aumento significativo no VO2 e melhora de classe funcional e qualidade de vida no grupo que recebeu ferro endovenoso ao fim de 24 semanas. Previamente, os estudos FAIR-HF e CONFIRM-HF já haviam demonstrado os benefícios da suplementação endovenosa de carboximaltose férrica sobre o teste da caminhada de 6 minutos, escores de qualidade de vida e hospitalizações por IC.
A justificativa mais provável para explicar essa diferença de resultados é que a suplementação oral está associada a mais efeitos colaterais, pior absorção e pior aderência ao tratamento. Em pacientes que receberam ferro por via oral, os estoques de ferro mensurados através de ferritina e saturação de transferrina permaneceram abaixo do normal e não foram significativamente diferentes do grupo placebo. No estudo FAIR-HF, que usou suplementação endovenosa de ferro por exemplo, a concentração de ferritina e a saturação de transferrina aumentaram, respectivamente, 20 e 4 vezes. A questão, no entanto, é que o ferro endovenoso é caro e cria desafios logísticos tanto para os prescritores quanto para os pacientes.
A posologia exata variou entre os estudos, mas em geral todos se guiaram pela reposição dos estoques de ferro, concentração de ferritina e saturação de transferrina. A dose média de carboximaltose férrica no EFFECT-HF foi 1.204 mg, dividida em 3 injeções administradas, respectivamente, no dia 0, na 6a semana e no 3o mês. No FAIR-HF, por outro lado, foram administrados 200 mg semanais e depois mensais a partir da 8a ou 12a semana, de acordo com a necessidade de reposição de ferro. O estudo FAIR-HF2 está em andamento e tem como objetivo primário avaliar o impacto da suplementação endovenosa de carboximaltose férrica sobre o desfecho combinado de hospitalização e mortalidade de causa cardiovascular em pacientes com ICFER.
Com relação aos agentes estimuladores da eritropoetina, o estudo RED-HF testou a darbepoetina alfa em doentes sintomáticos com ICFER e anemia leve a moderada, definida como hemoglobina entre 9 e 12 g/dL, e não demonstrou ser diferente de placebo no desfecho composto de mortalidade por todas as causas ou hospitalização por IC. Além de não apresentar benefícios, a administração de darbepoetina alfa aumentou significativamente o número de eventos tromboembólicos e, portanto, é contraindicada em pacientes com ICFER.