Qualquer Hipertrofia de VE é Diagnóstica de Cardiomiopatia Hipertrófica?

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Não!

Esta é uma dúvida muito comum quando eventualmente um paciente aparece com um exame de imagem com o laudo "hipertrofia do ventrículo esquerdo". Vamos esclarecer!

O que é a cardiomiopatia hipertrófica?

A CMH é uma doença genética do músculo cardíaco caracterizada por hipertrofia ventricular esquerda (VE) que não pode ser explicada por condições de sobrecarga cardíaca, como hipertensão arterial sistêmica ou valvopatias significativas. Existem critérios específicos, tanto para o ecocardiograma (ECO) quanto para a ressonância magnética cardíaca (RMC), para o diagnóstico de CMH, e a simples presença de hipertrofia não é suficiente para o diagnóstico.

Critérios Diagnósticos para CMH
  • Ecocardiograma (ECO): Tradicionalmente, a CMH é diagnosticada quando a espessura da parede do ventrículo esquerdo é ≥15 mm em qualquer segmento, na ausência de outra doença cardíaca ou sistêmica que possa causar hipertrofia semelhante. Em familiares de primeiro grau de indivíduos com CMH, uma espessura de parede de 13 a 14 mm pode ser considerada diagnóstica, levando em consideração o contexto clínico e genético.
  • Ressonância Magnética Cardíaca (RMC): A RMC é útil para o diagnóstico de CMH, especialmente em casos onde a visualização pelo ECO é limitada ou quando há suspeita de hipertrofia apical ou variantes atípicas. A RMC oferece a vantagem de avaliação detalhada da morfologia e da função cardíaca, além de permitir a detecção de fibrose miocárdica. Os critérios de espessura para o diagnóstico de CMH são semelhantes aos do ECO.
Espessura do Septo e Parede Posterior

A espessura específica que define a hipertrofia como parte do diagnóstico de CMH é de ≥15 mm no ECO, como mencionado acima. No entanto, deve-se notar que a hipertrofia pode ser assimétrica, frequentemente afetando o septo interventricular de forma mais proeminente do que a parede posterior do ventrículo esquerdo.

Considerações Importantes
  • Hipertrofia Fisiológica vs. Patológica: Atletas podem apresentar algum grau de hipertrofia ventricular como uma adaptação fisiológica ao treinamento intensivo, denominada "coração de atleta". A diferenciação entre hipertrofia fisiológica e patológica (como na CMH) é essencial e pode requerer uma avaliação clínica detalhada, além de exames complementares.
  • Outras Causas de Hipertrofia: Outras condições, como hipertensão arterial e estenose aórtica, também podem causar hipertrofia do ventrículo esquerdo. A avaliação clínica, histórico familiar e testes adicionais ajudam a diferenciar essas condições da CMH.

Em resumo, a presença de hipertrofia ventricular esquerda por si só não é diagnóstica de CMH. É necessário considerar a espessura da parede, a distribuição da hipertrofia, a ausência de condições que possam justificar a hipertrofia, bem como outros critérios clínicos e genéticos, para um diagnóstico preciso de CMH.

Referência

2023 ESC Guidelines for the management of cardiomyopathies ESC Clinical Practice Guidelines. European Heart Journal, Volume 44, Issue 37, 1 October 2023, Pages 3503–3626