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Qual nitrato usar na insuficiência cardíaca: mononitrato ou dinitrato de isossorbida?
Escrito por
Jefferson Vieira
Publicado em
27/3/2017
Os benefícios da terapia com nitratos na IC estão relacionados à vasodilatação, melhora da função sistólica, retardo do remodelamento patológico e aumento da capacidade física. O racional para a combinação com a hidralazina inclui a vasodilatação balanceada, com nitratos reduzindo a pré-carga (mais vasodilatação venosa) e hidralazina a pós-carga (mais vasodilatação arterial). Adicionalmente, a hidralazina possui propriedades antioxidantes que podem atenuar a tolerância aos nitratos.
Os estudos que comprovaram os benefícios da associação de hidralazina e nitrato na IC foram conduzidos predominantemente com o dinitrato de isossorbida (ISDN). O estudo A-Heft mostrou que a associação ISDN/hidralazina reduz mortalidade e risco de hospitalização em pacientes que se identificaram como afrodescendentes. Embora o papel da associação seja menos evidente em indivíduos não-afrodescendentes, ambos os estudos V-Heft I e II demonstraram melhora na fração de ejeção e na tolerância ao exercício físico também em brancos. Esses estudos não avaliaram os efeitos do mononitrato de isossorbida (ISMN), e foram conduzidos numa época em que o tratamento padrão da IC era muito diferente, sem betabloqueador nem iECA.
ISDN e ISMN possuem propriedades semelhantes, entretanto a formulação de ISMN é o metabólito ativo do ISDN e existem diferenças relevantes de farmacocinética entre os dois. A absorção gastrointestinal de ambos é rápida e completa, no entanto, o ISDN sofre efeito de primeira passagem no fígado e com a administração crônica ocorre acúmulo plasmático significante. O ISMN, por outro lado, apresenta biodisponibilidade de praticamente 100% o que permite prever com maior segurança seus efeitos. A meia vida do ISDN oral é de 30 minutos enquanto a do ISMN é de 4 horas. Dois medicamentos só podem ser intercambiáveis se forem bioequivalentes e como ISDN e ISMN não são considerados bioequivalentes, não podemos considerá-los iguais no tratamento da IC. Pelo menos não baseado na evidência clínica disponível. O ISMN é indicado prioritariamente para o manejo da angina crônica estável, mas não está aprovado pelo FDA para o tratamento de IC.
O maior problema da associação ISDN/hidralazina é a polifarmácia e a dificuldade em atingir doses que provaram ser eficazes nos estudos randomizados, respectivamente superiores a 40/150mg.
Resumindo:
- Quando for usar nitrato associado à hidralazina em seus pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida, sugerimos priorizar o DInitrato de isossorbida no lugar do MONOnitrato de isossorbida. Motivo: a primeira droga possui mais evidência de trabalhos científicos neste cenário do que a segunda.
- Na prática, iECA sempre deve ser a primeira opção de vasodilatador (independente da etnia).
- A associação ISDN/hidralazina deve ser considerada em afrodescendentes que persistem sintomáticos apesar de terapia otimizada para IC (betabloqueador, iECA e espironolactona).
- A associação ISDN/hidralazina pode ser considerada se houver intolerância ou contraindicação aos iECAs (ou BRAs).
- Finalmente, se adesão for um problema, o uso off-label de ISMN de liberação sustentada pode ser considerado mas sem apoio das atuais diretrizes disponíveis.