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Quais os principais fatores de risco para aneurisma de aorta?
Escrito por
Eduardo Sansolo
Publicado em
12/8/2021
O aneurisma de aorta é uma condição potencialmente fatal, uma vez que pode levar a ruptura ou dissecção deste vaso. Dilatações da aorta (ectasias ou aneurismas) podem acontecer em quaisquer segmentos e são, geralmente, assintomáticas. Desta maneira, alguns países e instituições implementaram programas de rastreio para detecção de aneurismas de aorta abdominal (AAA). Devido a menor prevalência e mortalidade por aneurismas de aorta torácica, programas de rastreio não se mostraram custo-efetivas.
Dica:
A etiopatogenia das dilatações da aorta difere de acordo com a sua localização. Na aorta ascendente, são atribuídas à degeneração cística da camada média, enquanto nas porções torácica descendente e abdominal são associadas a arterioesclerose.
Apesar dessa discrepância e falta de consenso sobre concomitância das dilatações aórticas, alguns guidelines recomendam rastreio de toda a aorta se 1 segmento dilatado for diagnosticado.
Os fatores de risco para AAA estão bem estabelecidos e incluem: sexo masculino, tabagismo, hipertensão, predisposição familiar e envelhecimento. Entretanto, para outros segmentos da aorta os fatores de risco não estão bem descritos, provavelmente devido à patogênese diferente.
Recentemente, foi publicado no JACC um trabalho que visa a esclarecer a real prevalência de dilatações em cada segmento da aorta e seus respectivos fatores de risco. Este estudo agrupou e analisou os dados de dois estudos multicêntricos de rastreio populacional para fatores de risco cardiovasculares na Dinamarca de 2014 a 2018 (DANCAVAS I e II). Os pacientes foram randomizados para o grupo controle ou o rastreio de fatores de risco cardiovasculares. Os do segundo grupo (n= 14989) eram submetidos a uma tomografia sem contraste de corpo inteiro e tinham o diâmetro da aorta avaliado em níveis predeterminados.
A prevalência de dilatações da aorta em homens foi de 4.0%, 0.9%, 2.3% e 9.4% enquanto para mulheres correspondeu a 2.1%, 0.3%, 1.1% e 3.9% para os segmentos ascendente, arco, descendente e abdominal, respectivamente.
Ao aplicar a regressão logística multivariada, o maior OR para dilatação em qualquer segmento foi a presença de dilatações coexistentes em outros segmentos. Hipertensão arterial e aumento da superfície corpórea (BSA) também foram associados positivamente com dilatações em todos segmentos. Apesar dessas associações gerais, algumas características foram associados a segmentos específicos, quais sejam:
- Dilatações nas artérias ilíacas foram positivamente associadas a todos os segmentos, exceto a aorta ascendente;
- Fibrilação atrial foi um fator de risco significativo presente nas dilatações da aorta ascendente e torácica descendente;
- Parentesco de primeiro grau de portadores de dilatações de aorta demonstrou ser um fator de risco apenas para os segmentos ascendente e abdominal;
- Infarto do miocárdio, assim como tabagismo, aumentaram significativamente o risco de dilatações da aorta abdominal;
- Diabetes foi um fator protetor para todos os segmentos da aorta.
Em resumo, este estudo transversal, populacional, randomizado, incluindo pacientes de 60 a 74 anos evidenciou que o fator de risco mais importante para uma dilatação aórtica é a presença de outra dilatação aórtica concomitante, o que ratifica a orientação dos guidelines atuais. De maneira intuitiva, este estudo demonstrou que diferentes segmentos da aorta compartilham vários fatores de risco, quais sejam: HAS, aumento da BSA, FA e parentesco de primeiro grau, os quais se demonstraram presentes com importância variável. Diabetes foi um fator de proteção para todos os segmentos aórticos. Entretanto, algumas características possuíram efeitos díspares dependendo do segmento aórtico analisado, por exemplo: tabagismo e infarto do miocárdio aumentaram o risco de dilatações abdominais enquanto protetores para aorta ascendente.