Quais os impactos do café sobre o coração?

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O café é uma das bebidas mais populares, consumida em todo o mundo há centenas de anos e já faz parte da cultura e vida social de alguns países. Além disso, muitos indivíduos utilizam o café para manter-se acordado e aumentar a produtividade. Nos EUA, 85% dos adultos consomem cafeína diariamente, numa média de 135 miligramas por dia, aproximadamente, 350ml. Mas, quais as consequências do café sobre o coração? Vamos a uma revisão sobre o tema.

A principal substância do café é a cafeína, mas há também outras substâncias biologicamente ativas incluindo polifenóis, trigonelina, melanoidinas, magnésio, potássio e vitamina B3. Esses componentes podem reduzir o estresse oxidativo, melhorar a microbioma intestinal e modular efeitos da glicose e metabolismo da gordura. Por outro lado, há também o cafestol que pode influenciar no metabolismo lipídico.

A cafeína é uma metilxantina que é absorvida completamente dentro de 45 minutos após a ingesta, com pico sanguíneo de 15 minutos a 2 horas. No fígado a cafeína é metabolizada pelo citocromo P-450 (sempre ele!!!) em paraxantina, teofilina e teobromina que depois, serão excretadas pela urina. A estrutura molecular da cafeína é similar à adenosina, assim, ao ligar-se ao receptor da adenosina bloqueia e inibe o seu efeito. O acúmulo da adenosina no cérebro inibe a excitação e aumenta a sonolência. Em moderadas doses, a cafeína pode antagonizar os efeitos da adenosina reduzindo a fadiga e aumentando o estado de alerta.

Outros efeitos da cafeína:

- Pode contribuir para o alívio da dor quando adicionada a analgésicos.

- Quando consumida no final do dia, pode afetar o sono.

- Em doses elevadas, pode induzir ansiedade, estimular débito urinário, mas sem prejuízo na hidratação ou volemia.

Pessoas que possuem o hábito de ingerir café e suspendem abruptamente podem cursar com sintomas de abstinência como dor de cabeça, fadiga, diminuição do estado de alerta e sintomas parecidos com depressão. Esses sintomas geralmente ocorrem de 1 a 2 dias depois de cessar a ingesta, com uma duração média de 2 a 9 dias. Já naqueles que não tem esse hábito, a cafeína pode aumentar os níveis de epinefrina e a PA em curto prazo, mas a tolerância ocorre, geralmente, dentro de uma semana. Metanálises indicam que a cafeína, isoladamente, pode aumentar a pressão sistólica e diastólica, entretanto nenhum efeito substancial na PA foi encontrado em trials que avaliaram a ingesta de café cafeinado, possivelmente devido à outros componentes do café que podem reduzir a PA, contrabalançando o efeito da cafeína isolada. Em outro estudo de coorte prospectivo, o consumo de café não foi associado a aumento do risco de hipertensão.

Quando consumidos em doses elevadas, a cafeína pode ter efeitos colaterais que incluem nervosismo, disforia, insônia, excitabilidade, agitação psicomotora, desconexão do fluxo de pensamento e fala. Esses podem ocorrer em ingesta de 1.2 g ou mais. Em doses de 10g a 14g é considerado fatal.

O componente cafestol é elevado em café não filtrado, como os servidos em prensa francesa ou café turco. Já no café expresso, o nível é intermediário. Estudos randomizados mostraram que alto consumo de café não filtrado (média de 6 copos por dia) levaram ao aumento dos níveis de LDL colesterol 17.8 miligramas por decilitro quando comparado com café filtrado. Limitar o consumo de café não filtrado e moderar o consumo de expresso pode ajudar no controle de níveis de colesterol sérico.

Em relação a arritmias, os estudos sobre café e coração são heterogêneos. Estudos experimentais em humanos e outros estudo de coorte não mostraram associação entre ingesta de cafeína e fibrilação atrial. Outros trabalhos mostraram que o consumo de café não está associado com aumento de risco de doenças cardiovasculares na população geral ou mesmo naqueles pacientes com história de hipertensão, diabete ou doença cardiovascular. Os autores relatam ainda que o consumo de café foi associado com redução do risco de doença cardiovascular quando se consume de 3 a 5 copos por dia.

Cafeína pode melhorar o balanço energético por reduzir o apetite, aumentar a taxa metabólica basal e a termogênese induzida por alimentos, possivelmente através de estímulo do sistema nervoso simpático. Além disso, a cafeína reduz a sensibilidade a insulina em curto prazo. O café tem sido consistentemente associado com risco de redução do DM tipo 2.

Consumo de café e cafeína não está associado com um aumento da incidência de câncer ou o aumento da taxa de morte por câncer. O consumo de café também está associado levemente com redução de risco de melanoma, câncer de pele não melanoma, câncer de pulmão e câncer de próstata, além de redução do risco de depressão e suicídio, risco de cálculos renais e câncer em vesícula biliar. Forte associação inversa também tem sido observada entre o consumo de café e o risco de câncer endometrial, carcinoma hepatocelular e doença de Parkinson, assim como tem sido associado com a redução de

Resumo - café x coração

Os autores de uma revisão publicada em 2020 concluem que o consumo de café não aumenta o risco de doença cardiovascular e câncer. De fato o consumo de 3 a 5 copos padrões de café por dia têm sido constantemente associado com redução do risco de várias doenças crônicas. Entretanto, a ingesta de alto níveis de cafeína tem vários efeitos colaterais e prejudiciais. O limite de 400 miligramas de cafeína por dia para adultos (não gestante ou lactante) tem sido recomendado.

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Referência: Coffee, Caffeine, and Health Rob M. van Dam, Ph.D., Frank B. Hu, M.D., Ph.D., and Walter C. Willett, M.D., Dr.P.H, N Engl J Med 2020;383:369-78