PREVENT: nova calculadora de risco cardiovascular

Compartilhe

Na avaliação do risco cardiovascular (CV), as diversas sociedades recomendam a utilização de diferentes calculadoras. Tais ferramentas são baseadas em estudos clínicos, nos quais determinados parâmetros estiveram associados em diferentes intensidades a incidência de eventos cardiovasculares. A calculadora recomendada pelo American College of Cardiology e pela American Heart Association (ACC/AHA), por exemplo, foi desenvolvida em 2013. As variáveis incluídas são idade, sexo, raça, pressão arterial, colesterol total e HDL e histórico de tabagismo, diabetes e tratamento para hipertensão.

Recentemente, a AHA, em colaboração com um grupo de investigação de doenças renais, desenvolveu recentemente um novo preditor de risco CV chamado PREVENT. A nova ferramenta baseia-se em dados de 46 coortes diferentes, recolhidos entre 1992 e 2017; as estimativas de risco foram derivadas de 3,3 milhões de pessoas e validadas em um número semelhante. Em contraste, a ferramenta de 2013 foi obtida a partir de cerca de 25 mil pessoas que participaram em vários estudos de investigação iniciados entre as décadas de 1960 e 1990.

Ao contrário da calculadora de 2013, a PREVENT inclui índice de massa corporal, taxa de filtração glomerular estimada e (opcionalmente) hemoglobina glicosilada e relação albumina/creatinina urinária, fatores que vem ganhando destaque crescente nos estudos mais recentes de segurança CV.

PREVENT fornece resultados mais extensos do que a ferramenta de 2013, com estimativas para doenças cardiovasculares em geral, doença aterosclerótica (doença coronariana e acidente vascular cerebral) e insuficiência cardíaca. Além disso, PREVENT gera estimativa de riscos em 10 anos para pessoas entre 30 e 79 anos e em 30 anos para pessoas entre 30 e 59 anos.

Publicação recente na revista JAMA fez uma comparação das estimativas de risco entre as duas ferrementas, estudando dados de uma coorte com aproximadamente 4.000 adultos norte-americanos com faixa etária de 40 a 75 anos. As estimativas de risco foram marcadamente mais baixas com o PREVENT: por exemplo, o risco médio previsto de DCVA em 10 anos foi de 4,3% com o PREVENT e de 8,0% com a ferramenta de 2013, com diferenças mantidas em todas as idades, sexo e subgrupos raciais. Extrapolando para a população geral dos EUA, os pesquisadores estimaram que cerca de 17 milhões de pessoas que teriam indicação de iniciar o uso de estatinas, de acordo com a calculadora de 2013, não receberiam tal prescrição se avaliados pela PREVENT.

Em teoria, o escopo mais amplo e mais recente da PREVENT deveria aumentar sua precisão, tornando-a preferível em relação a calculadora mais antiga. As estimativas de risco geralmente mais baixas do PREVENT são consistentes com vários estudos de validação publicados que mostraram que a calculadora de 2013 superestima o risco em certas populações. No entanto, não sabemos se a potencial redução no uso preventivo de estatinas seria benéfica, prejudicial ou neutra para os resultados de saúde na população em geral.

É tentador olhar para um resultado gerado por uma calculadora – com aparente precisão decimal – como representando uma verdade inequívoca. Contudo, devemos lembrar que estes números são apenas probabilidades estimadas derivadas de dados imperfeitos e melhor aplicáveis a populações com características similares àquela estudada originalmente. Assim, devemos ficar atentos à informações adicionais sobre os pontos fortes e fracos de cada uma dessas ferramentas, buscando a que melhor se aplique a população onde se está inserido.