Por que usamos espironolactona na insuficiência cardíaca?

Compartilhe
Por que usamos espironolactona na insuficiência cardíaca?

Dona Rosa está internada na enfermaria de clínica médica devido a um quadro de dispneia e ortopneia de início há 3 meses. O ecocardiograma mostrou FE 30% e ela está em programação de realizar cateterismo cardíaco. Mesmo usando enalapril e bisprolol, ela persiste sintomática e o residente da cardiologia sugere a introdução de espironolactona. O estudante do 4o ano pergunta de onde veio essa história de usar esta medicação na insuficiência cardíaca.

Três estudos de referência estabeleceram o benefício dos antagonista dos receptores mineralocorticóides (ARM) no tratamento insuficiência cardíaca (IC) com fração de ejeção reduzida (ICFER):

  • RALES
  • EPHESUS
  • EMPHASIS-HF

O estudo RALES (n = 1.663), publicado em 1999, foi o primeiro grande ensaio clínico a demonstrar benefício da espironolactona na redução de mortalidade (cardiovascular, por todas as causas e súbita) e hospitalização cardiovascular em portadores de IC crônica (FE < 35%) e NYHA III-IV. Uma crítica comum ao RALES é de que apenas 10% dos pacientes recebiam algum betabloqueador (BB) apesar de que, naquela época, os BBs ainda não haviam se mostrado eficazes ou seguros em pacientes com IC. Os principais efeitos adversos observados com o uso da espironolactona foram o aumento de creatinina e potássio, mas sem repercussão clínica. Além disso, como a espironolactona também bloqueia o receptor da testosterona aumentando sua aromatização para estradiol, 10% dos homens relataram ginecomastia dolorosa.

  • Nota: A espironolactona é empregada em altas doses como antiandrógeno na hormonioterapia de transexuais.

Ah, então ótimo. Vou passar antagonistas para todos os meus pacientes com IC, certo? Na verdade, não. Continuamos o assunto no próximo post.Pitt B, Ferreira JP, Zannad F. Mineralocorticoid receptor antagonists in patients with heart failure: current experience and future perspectives, European Heart Journal - Cardiovascular Pharmacotherapy, Volume 3, Issue 1, 1 January 2017, Pages 48–57.