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Pode haver edema agudo de pulmão sem o paciente estertorar até ápice?
Escrito por
Eduardo Lapa
Publicado em
18/9/2018
Esse é um conceito que muitos estudantes de medicina desenvolvem na faculdade: para que um paciente seja diagnosticado com edema agudo de pulmão, é necessário que esteja estertorando até o ápice bilateralmente. Só tem um problema: não é assim que funciona na vida real. Por quê? Para isso temos que entender de onde surge o som dos estertores. Na fisiologia normal, os alvéolos são ocupados apenas por ar e não por líquido. Veja figura do nosso livro Cardiologia Cardiopapers:
Na medida em que ocorre aumento das pressões de enchimento em coração esquerdo, ocorre elevação da pressão hidrostática nos capilares o que causa extravasamento de líquido para o interior dos alvéolos. É isso que vai gerar o som dos estertores finos ou estertores crepitantes na ausculta pulmonar.
O edema agudo de pulmão é uma situação aguda em que há franca descompensação cardiopulmonar levando ambos os pulmões a ficarem repletos de líquido, o que pode causar inclusive morte por hipóxia. Quando isso ocorre em um paciente em que o coração era previamente normal (digamos, um paciente que era saudável e repentinamente faz um infarto com supra de ST anterior extenso), é comum auscultar-se estertores finos até ápice bilateralmente. Já quando o paciente tem insuficiência cardíaca crônica, o processo muda um pouco. Nestes pacientes, o sistema linfático passa a se adaptar à congestão permanente, reduzindo assim a quantidade líquido que extravasa para os alvéolos. Desta forma, mesmo este paciente estando nitidamente descompensado, o comum é auscultar-se estertores finos muitas vezes limitados apenas às bases, ou mesmo praticamente não os auscultar!
Resumindo:
- em pacientes com IC crônica, sinais de congestão perdem bastante acurácia no diagnóstico de descompensação. Melhor focar em outros sinais com presença de terceira bulha e/ou em sintomas como ortopneia.
DICA: sinais mais específicos para diagnóstico de IC
- Pressão venosa jugular aumentada (vista no exame físico através da turgência jugular)
- Refluxo hepatojugular
- Terceira bulha
- Ictus cordis desviado para a esquerda
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