PITIRÍASE RÓSEA NA GESTAÇÃO: DEVEMOS NOS PREOCUPAR?

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A pitiríase rósea (PR) é uma erupção cutânea eritematosa aguda e autolimitada que afeta principalmente adultos jovens de 15 a 35 anos. Geralmente começa com uma única placa, seguida por exantema que se espalha após um período de latência de 10 a 14 dias. A erupção pode também ser mais prolongada e acompanhada de sintomas como febre, dor de cabeça, mal-estar ou linfonodomegalias. Está comumente associada à reativação endógena dos herpes humano HHV-6 e HHV-7.

Por ser uma afecção relativamente comum e afetar jovens, não é raro que mulheres grávidas estejam no grupo acometido. Há publicações que demonstram uma incidência maior em gestantes quando comparada à população geral, possivelmente por se encontrarem em um estado de imunidade alterado, influenciando algum papel na replicação viral.

Alguns estudos anteriores expressaram preocupações sobre a associação da PR na gravidez com algumas complicações, incluindo taxas mais altas de abortos espontâneos, parto prematuro, natimorto, baixo peso ao nascimento, alterações do líquido amniótico e malformações congênitas, como forame oval e craniossinostose. No entanto, a associação de PR com desfechos desfavoráveis não têm sido demonstrado em alguns estudos mais recentes.  

A associação entre a presença da PR e o HHV-6 não é clara e linear. Vale ressaltar que o HHV-6 pode ser integrado cromossomicamente e ser transmitido geneticamente de mãe para criança. Um estudo em mulheres grávidas com integração do HHV-6 mostrou um risco aumentado de aborto espontâneo. Já foi descrita uma associação significativa entre complicações na gravidez e carga viral (cópias/mL). Já outra publicação relatou que de todas as oito mulheres que abortaram em seu estudo apresentavam RP atípica (lesões cutâneas incomumente disseminadas e de longa duração). Duração com sintomas constitucionais associados), mas nenhum carregava anticorpos HHV-6.  

Quanto ao papel potencial do HHV-7 na PR de gestantes, mesmo com a detecção eventual no plasma e lesões cutâneas em algumas mulheres com aborto, presença de DNA do vírus ou antígenos em tecidos fetais nunca foram descritos. Além das etiologias virais, há relato de um caso de reação medicamentosa tipo PR ao ondansetrona em uma mulher grávida, enfatizando a importância de considerar outras etiologias para erupções do tipo PR na gravidez.

Revisões de literatura delinearam conceitos atuais demonstrando que as taxas de aborto nas mulheres grávidas com RP não são substancialmente diferentes de mulheres grávidas em geral. Quanto a outras potenciais consequências negativas sobre mãe e feto, os dados ainda são conflitantes. Entretanto, podemos sumarizar algumas pistas clínicas destes estudos para desfechos desfavoráveis:

— Início precoce (antes das 15 semanas de gestação)

— Disseminação da erupção (>50% da superfície corpórea)

— Longa duração da erupção

— Presença de sintomas extracutâneos  

Nos casos em que as gestantes apresentarem essas características, recomenda-se um acompanhamento obstétrico mais próximo. Quanto ao tratamento da PR com aciclovir, ainda não existe protocolo específico. Diante da segurança do aciclovir neste contexto, alguns autores concordam em iniciar o antiviral (aciclovir 400 ou 800 mg 3x/dia por 7 dias) para pacientes com maior risco potencial para intercorrências materno-fetais. Vale ressaltar que o aciclovir oral não preveniu complicações em alguns casos relatados.

Fica a conclusão de que mesmo com a inserção do tratamento antiviral, não se dispensa a necessidade de monitoramento rigoroso em pacientes de alto risco. Outros estudos prospectivos controlados com amostras maiores são necessários para definir uma diretriz padrão para o manejo de gestantes.

FONTES:

Wenger-Oehn L, Graier T, Ambros-Rudolph C, Müllegger R, Bittighofer C, Wolf P, Hofer A. Pityriasis rosea in pregnancy: A case series and literature review. J Dtsch Dermatol Ges. 2022 Jul;20(7):953-959. doi: 10.1111/ddg.14763. Epub 2022 May 26. PMID: 35616213; PMCID: PMC9542365.

Ong M, White H, Lipner SR. No increased risk of birth complications and spontaneous abortion in pregnant patients with pityriasis rosea compared to matched controls: a retrospective study at an academic center New York, New York. J Am Acad Dermatol. 2023;S0190-9622(23):2692. doi:10.1016/j.jaad.2023.09.015 PMID: 37714219  

Hatami P, Aryanian Z, Asl HN, Khayyat A, Hatami D. Pregnancy and pityriasis rosea: Current concepts. J Cosmet Dermatol. 2024 Jun;23(6):2298-2300. doi: 10.1111/jocd.16233. Epub 2024 Feb 13. PMID: 38348731.