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Perfil Biofísico Fetal
Escrito por
Jader Burtet
Publicado em
23/8/2023
Um dos métodos de avaliação de bem-estar fetal, o perfil biofísico fetal é a união da cardiotocografia e quatro parâmetros ecográficos avaliados num período de 30 minutos. Trata-se de um teste não invasivo em que se pontuam os movimentos fetais — 2 (presente) e 0 (ausentes) —, o movimento respiratório (acima de 1), o tônus fetal (pelo menos 1) e o bolsão de líquido amniótico. O líquido é medido pelo maior bolsão vertical acima de 2 cm e 1 cm de diâmetro transverso. Uma pontuação maior ou igual a 8 indica equilíbrio da oxigenação fetal e estado acidobásico do pH sanguíneo fetal. Quando anormal, pode ser devido a um comprometimento fetal agudo ou crônico. Crônico quando há alteração do líquido amniótico e textura placentária, pois devido à redistribuição de fluxo renal por uma possível vasoconstrição, ocasionada por hipoxia, há uma redução da diurese fetal com consequente diminuição do líquido. Os parâmetros agudos correspondem à hipoxemia aguda, que resulta na redistribuição de fluxo e centralização fetal, ocasionando a perda dos outros parâmetros citados. Os centros do SNC mais sensíveis à hipoxemia são os neurônios cardiorreguladores e os neurônios do centro respiratório fetal. Dessa forma, a mínima redução de oxigênio do feto pode levar a alteração dos movimentos respiratórios e anormalidades na frequência cardíaca. Já os movimentos fetais possuem limiar mais alto de alteração hipoxêmica, e o centro que regula o tônus fetal é ainda maior. Dessa forma, numa sequência de sensibilidade, em um ambiente com redução dos níveis de oxigênio, têm-se as seguintes etapas: perda das acelerações transitórias da frequência cardíaca fetal, diminuição ou ausência dos movimentos respiratórios, diminuição da movimentação fetal e, por fim, perda do tônus. Os parâmetros escolhidos para a avaliação são facilmente reprodutíveis, e os movimentos de sucção, oculares, deglutição, micção também podem ser utilizados. A avaliação é aceitável a partir da viabilidade fetal em gestações de segundo e terceiro trimestre e pode ser repetida semanalmente na maioria dos casos. Em casos de gestações prolongadas, diabetes gestacional e isoimunização RH, indicado duas vezes por semana. Em rupreme, diariamente. Por se tratar de um exame que possui estimativa confiável de risco de morte fetal, caso haja alteração dos parâmetros é indicada a interrupção da gestação. A avaliação, porém, deve sempre levar em consideração a idade gestacional, risco de morbimortalidade neonatal e condições maternas. Jejum, infecções subclínicas ou até mesmo o uso de corticoide podem levar a uma diminuição transitória da variabilidade da frequência cardíaca, além de redução de movimento respiratório e fetal. Oligodrâmnio, calculado pelo maior bolsão vertical, está associado à acidose fetal e deve ser considerado parto mesmo na presença de normalidade dos demais parâmetros. Em alguns casos, pode ser independente das variáveis agudas de bem-estar do feto e pode ser correlacionado à adaptação fetal ao ambiente hipoxêmico. Porém, uma avaliação cuidadosa deve considerar a hipótese de uma insuficiência uteroplacentária. A redução das condições uteroplacentárias que leva à redução do líquido amniótico pode levar cerca de 15 dias para aparecer clinicamente e 23 dias para ser considerado oligodrâmnio grave. Isso ocorre pois o feto responde ao ambiente mais hipoxêmico redistribuindo o fluxo cardíaco e renal. Dessa forma, a preferência de perfusão são o sistema nervoso central, o coração e os suprarrenais. Esse mecanismo de centralização é mediado por quimiorreceptores localizados no arco aórtico e artérias carótidas.REFERÊNCIAS:FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA. 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