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Qual o perfil e prognóstico da IC em pacientes jovens?
Escrito por
Mônica Ávila
Publicado em
30/12/2022
00Apesar da incidência de insuficiência cardíaca (IC) aumentar com a idade, sendo uma doença que afeta predominantemente idosos, estudos recentes indicam que está ocorrendo um aumento do número de casos de IC em pacientes jovens (< 50 anos). Estima-se que, nas últimas décadas, houve uma estabilidade nas taxas de hospitalizações por IC, porém com uma diminuição de mortalidade. E não se sabe se existe um efeito da idade dos pacientes com IC nessas estatísticas. Um estudo francês recente investigou a incidência de IC em pacientes jovens, isto é, com idade < 50 anos.
O estudo utilizou o banco de dados francês de hospitalizações (Programme de Médicalisation des Systèmes d’Information , PMSI), sendo incluídos casos de IC admitidos no hospital de 2013 a 2018, identificados pelo CID-10 I50.0 e agrupados pela idade e sexo. Também foram classificados conforme etiologias e investigado o prognóstico dos pacientes avaliado pela proporção de re-internações por IC e morte em até 2 anos após a primeira hospitalização por IC.
Foram identificados 1.486.877 pacientes hospitalizados por IC no período do total de 67 milhões de habitantes franceses avaliados no banco de dados. Entre eles, 467.031 (31%) com idade entre 18-70 anos e 70.075 (4,7%) entre 18-50 anos. Um terço do primeiro grupo eram mulheres. A incidência de IC entre toda população foi de 3,65% e 0,44% na população jovem (18-50 anos). No decorrer dos anos a incidência geral de IC diminuiu de 3,99% para 3,65% (p<0,001), entretanto apresentou um aumento significante entre os adultos jovens de 0,041% (p<0,001). Essa evolução foi explicada por um aumento da incidência de IC entre homens, com uma estabilidade entre as mulheres. Esse aumento foi proporcional à idade, sendo menor naqueles com idade de 18 anos (aumento de 0,07%) e maior naqueles com 50 anos (aumento de 1,31%). Naqueles com idade de 50 anos, a incidência de IC foi 2 vezes maior entre os homens em relação as mulheres (1,84% vs 0,8%, respectivamente, p<0,001). Os adultos jovens com IC também apresentavam taxas mais altas de fatores de risco cardiovascular modificáveis como: obesidade, dislipidemia, história de tabagismo, hipertensão e diabetes.
Entre as etiologias, a cardiomiopatia secundária à miocardite foi responsável por 23% dos casos de IC entre indivíduos com 18-50 anos e a miocardiopatia isquêmica contou com 20% dos casos, enquanto essa proporção foi diferente naqueles pacientes entre 51 – 70 anos (miocardite-11% e isquêmica-30%). A cardiomiopatia secundária à miocardite foi encontrada entre os mais jovens e sua incidência caiu com o aumento da idade. Reciprocamente, a incidência de miocardiopatia isquêmica foi mínima entre os mais jovens, aumentando com a idade. Em relação ao prognóstico, em pacientes jovens a proporção de re-internações por IC foi de 24% nos casos de miocardite e 30% nos isquêmicos, enquanto naqueles de 51-70 anos, as re-hospitalizações forma 31% nos secundários a miocardite e 35% nos isquêmicos. A proporção de óbitos até 2 anos da primeira hospitalização por IC entre os jovens (18 – 50 anos) foi de 10%, semelhante entre as etiologias.
Esse foi um estudo que utilizou banco de dados como fonte de informações, que poderia subestimar dados relevantes e isso é a principal limitação dessa análise. Entretanto, esse levantamento demonstra uma alta taxa de re-hospitalização por IC entre os jovens, podendo estar relacionada a alta prevalência de fatores de risco cardiometabólicos associados a esses indivíduos e aponta a necessidade de cuidados mais rigorosos com estratégias para prevenção de fatores de risco para IC para essa população mais jovem.
Referência
Lecoeur E, Domengé O, Fayol A, Jannot AS, Hulot JS. Epidemiology of heart failure in young adults: a French nationwide cohort study. Eur Heart J. 2022 Dec 1:ehac651. doi: 10.1093/eurheartj/ehac651. Epub ahead of print. PMID: 36452998. (https://academic.oup.com/eurheartj/article-lookup/doi/10.1093/eurheartj/ehac651)