Compartilhe
Orbitopatia de Graves em fase inativa: temos um novo tratamento?
Escrito por
Ícaro Sampaio
Publicado em
2/1/2024
A Orbitopatia de Graves (OG) tem sido descrita como uma doença bifásica com inflamação inicial aguda dos tecidos retro-orbitários (dor, eritema, edema), seguida por uma diminuição e estabilização da inflamação com expansão tecidual contínua e fibrose, muitas vezes referida como fase crônica. Os dados sugerem que as farmacoterapias convencionais (terapia imunossupressora com glicocorticoides, micofenolato etc) não ajudam na OG crônica, de modo que as manifestações da doença têm sido tipicamente tratadas cirurgicamente.
O teprotumumabe, um inibidor do receptor do fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1R), foi o primeiro medicamento aprovado para tratamento de OG, em 2020 nos Estados Unidos, com base em 2 ensaios clínicos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo. Um consenso publicado em 2022 da European Thyroid Association e da American Thyroid Association recomendou o uso de primeira linha de teprotumumabe (quando disponível) para um amplo grupo de pacientes com OG moderada a grave apresentando proptose significativa ou diplopia.
Embora estudos observacionais tenham sido publicados indicando efeitos favoráveis do teprotumumabe em um amplo grupo de pacientes com OG crônica, não havia até então dados de estudos bem controlados com teprotumumabe em pacientes com maior duração de OG sem inflamação ativa. Estudo publicado no JCEM buscou investigar a eficácia, segurança e tolerabilidade do teprotumumabe em pacientes com OG de longa duração e doença inativa, conforme avaliação pelo CAS.
Trata-se de um estudo randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, realizado em 11 centros dos EUA, que envolveu participantes adultos com duração da OG de 2 a 10 anos e (CAS) ≤ 1. Os pacientes receberam teprotumumabe intravenoso (2:1) ou placebo uma vez a cada 3 semanas (total de 8 infusões). O desfecho primário foi a melhora da proptose (mm) na semana 24.
Um total de 62 pacientes (42 teprotumumabe e 20 placebo) foram randomizados. Na semana 24, a melhora da proptose foi maior com teprotumumabe (-2,41 mm ) do que com placebo (-0,92 mm), diferença -1,48 mm (IC 95% -2,28, -0,69; P = 0,0004). Hiperglicemia foi relatada em 6 (15%) vs 2 (10%) e deficiência auditiva em 9 (22%) vs 2 (10%) com teprotumumabe e placebo, respectivamente.
Os dados apresentados demonstram que o teprotumumabe reduziu significativamente a proptose desde o início do estudo, com uma taxa mais elevada de resposta à proptose em comparação com o placebo em pacientes com Orbitopatia de Graves de longa data e baixa atividade clínica da doença. Esses dados, tomados em conjunto com os resultados de estudos anteriores, demonstram a eficácia do teprotumumabe na OG, independentemente da duração ou atividade da doença. Assim como foi observado em ensaios anteriores, foram observados eventos de hiperglicemia e deficiência auditiva nesse estudo.