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O Porquê De Evitarmos A Neomicina Tópica
Escrito por
Jéssica Guido
Publicado em
28/10/2022
A neomicina é muito prescrita no dia-a-dia em pacientes com infecções bacterianas cutâneas e também em pacientes com ferimentos de pele. Mas será que prescrevê-la é uma conduta acertada?
Conhecida por ser um antibiótico da classe dos aminoglicosídeos, a neomicina tópica deriva de uma mistura entre a neomicina B e a neomicina C, fornecida na forma de sulfato. Seu mecanismo de ação é através da inibição da síntese proteica da bactéria.
E qual o seu espectro de ação? Possui atividade bactericida principalmente contra bactérias Gram-negativas como Proteus sp., Klebsiella sp. Enterobacter sp., E. Coli. Apesar da crescente resistência, ainda possui alguma atividade contra bactérias Gram-positivas como Staphylococcus aureus. No entanto, não é eficaz contra Pseudomonas aeruginosa, Streptococcus pyogenes e bactérias anaeróbicas, não realizando cobertura total contra bactérias que também causam piodermites.
Vale ressaltar que não se deve usar como cicatrizante de feridas já que não possui evidências plausíveis, e sim alto risco de dermatite de contato alérgica (DCA). Esta é uma grande limitação para a sua prescrição, já que a DCA é um evento adverso comum - com taxa acima de 8%. Os pacientes com maior risco para desenvolver DCA são os de idade avançada, dermatite nas pernas e reações positivas a outros alérgenos. A utilização de repetidas vezes, e a oclusão, assim como a aplicação da neomicina nas áreas de dobras, aumenta o risco de DCA.
A neomicina pode afetar os rins e o sistema auditivo. A aplicação tópica em feridas pode resultar em perda auditiva, especialmente em pacientes com insuficiência renal, pois pode causar apoptose de células ciliadas, principalmente na cóclea.
Portanto, cuidado ao prescrever uma medicação tópica.
REFERENCIAS
Kreft B, Wohlrab J. Contact allergies to topical antibiotic applications. Allergol Select. 2022 Feb 1;6:18-26. doi: 10.5414/ALX02253E. PMID: 35141463; PMCID: PMC8822519.
Punjataewakupt, A., Napavichayanun, S. & Aramwit, P. A desvantagem de agentes antimicrobianos para cicatrização de feridas. Eur J Clin Microbiol Infect Dis 38 , 39-54 (2019). https://doi.org/10.1007/s10096-018-3393-5