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O creme de ruxolitinib está associado a eventos adversos sistêmicos graves?
Escrito por
Cláudia Elise Ferraz Silva
Publicado em
31/10/2024
O ruxolitinibe a 1,5% creme (Opzelura®) é a primeira formulação tópica um inibidor seletivo de JAK1 e JAK2 liberado nos EUA, em 2021 para tratamento dermatite atópica leve a moderada e, em 2022, para vitiligo não segmentar. Pode ser utilizado a partir dos 12 anos de idade, 2x ao dia. Já há publicações de terapêutica combinada à fototerapia com resultados positivos.
O ruxolitinib oral já foi aprovado desde 2011 para o tratamento de policitemia vera, trombocitemia essencial e mielofibrose. Mas sua aplicação tópica vem ganhando destaque na dermatologia por sua boa absorção epidérmica e dérmica. Contudo, sabe-se que os inibidores de JAK sistêmicos estão associados a complicações como o risco de infecções graves, mortalidade, malignidades, eventos adversos cardiovasculares importantes e trombose. Diante disto, o FDA mantém as mesmas advertências para seu uso tópico.
Revisão dos bancos de dados de segurança de medicamentos dos EUA - durante o primeiro ano após a aprovação de comercialização do creme de ruxolitinibe - sugere que este produto tópico é geralmente bem tolerado, sem eventos adversos sistêmicos (EAs) significativos, e com baixa incidência de reações no local de aplicação.
Estudo recente avaliou um total de 294 relatórios de segurança de casos individuais pós-comercialização do creme de ruxolitinib, com registros de 589 eventos adversos. Os EAs relatados com maior frequência (>2%) foram dor no local da aplicação (n = 16), dermatite atópica (n = 15), irritação da pele (n = 15), escoriações (n = 14) e condição cutânea de base agravada e/ou não melhorada (n = 13). Os quatro EA graves foram câncer de pele (n = 2), pericardite (o único a requerer hospitalização) e trombocitopenia (ambos n = 1), nenhum dos quais teve conexão suficiente para avaliar uma possível relação causal com o creme de ruxolitinibe.
Uma possível justificativa para a ausência de EAs graves associados ao creme de ruxolitinibe é a baixa biodisponibilidade sistêmica da droga (6,22%) após aplicação tópica a 1,5% 2x/dia em pacientes com DA. Da mesma forma, pacientes com vitiligo demonstram baixa absorção sistêmica.
Como se trata de um produto relativamente novo, são necessários dados de longo prazo para avaliar completamente estes riscos. Os resultados pós-marketing ainda devem ser interpretados com cautela. Vamos ficar de olho!
Fontes:
Hu W, Thornton M, Livingston RA. Real-World Use of Ruxolitinib Cream: Safety Analysis at 1 Year. Am J Clin Dermatol. 2024 Mar;25(2):327-332. doi: 10.1007/s40257-023-00840-1. Epub 2024 Jan 19. PMID: 38243107; PMCID: PMC10866801
Joshipura D, Alomran A, Zancanaro P, Rosmarin D. Treatment of vitiligo with the topical Janus kinase inhibitor ruxolitinib: A 32-week open-label extension study with optional narrow-band ultraviolet B. J Am Acad Dermatol. 2018 Jun;78(6):1205-1207.e1. doi: 10.1016/j.jaad.2018.02.023. Epub 2018 Feb 10. PMID: 29438765.