O consumo de álcool melhora o perfil lipídico?

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O consumo de álcool foi identificado como um fator determinante de diversos agravos a saúde, respondendo por quase 10% das mortes globais. Embora alguns estudos anteriores sugiram que o consumo leve a moderado de álcool pode reduzir o risco de aterosclerose, a magnitude desse benefício ainda não está bem determinada. Além disso, esses potenciais benefícios são cada vez mais ofuscados pelas crescentes evidências dos efeitos prejudiciais do álcool.

Em um estudo de coorte observacional do Japão, recém-publicado na revista JAMA, avaliações laboratoriais dos perfis lipídicos e padrões quantitativos do consumo de álcool foram coletados de aproximadamente 58.000 pacientes durante as visitas anuais de check-up de 2012 a 2022.

Os principais achados foram os seguintes:

Entre os participantes que não relataram ingestão habitual de álcool em suas primeiras visitas, aqueles que iniciaram a ingestão de álcool em visitas subsequentes demonstraram uma diminuição média dependente da dose no colesterol LDL e um aumento médio no colesterol HDL (-1,59 e +1,15 mg/dL por dose/dia, respectivamente) em comparação com os participantes que permaneceram abstinentes.

Entre os participantes que relataram ingestão de álcool em suas primeiras visitas, aqueles que pararam de consumir álcool demonstraram um aumento médio dependente da dose no colesterol LDL e uma diminuição média no colesterol HDL (+1,41 e -1,25 mg/dL por dose/dia, respectivamente), em comparação com os participantes que continuaram a consumir álcool.

O efeito sobre o colesterol LDL tanto do início quanto da cessação foi mais proeminente em mulheres e naquelas com menor índice de massa corporal. Não houve diferença significativa entre as diferentes bebidas (cerveja x vinho, por exemplo).

Discussão

Os dados do estudo apontam que o início do consumo de álcool foi associado à diminuição do LDL-C e ao aumento dos níveis de HDL-C, enquanto a cessação mostrou uma associação oposta. Essas mudanças foram mais pronunciadas com maiores quantidades de álcool, de maneira dose-dependente. Embora os mecanismos envolvidos nessas mudanças permaneçam não esclarecidos, efeitos semelhantes entre as várias bebidas sugerem que o álcool é a principal substância envolvida.

Reforçamos que a melhora dos perfis lipídicos com a ingestão de álcool é modesta e não justifica qualquer recomendação para o uso de álcool aos pacientes, entretanto, podem sugerir que mudanças no consumo de álcool devam ser consideradas quando estivermos avaliando o perfil lipídico dos pacientes.