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Novo guideline de insuficiência ovariana prematura: investigando a etiologia
Escrito por
Erik Trovao
Publicado em
14/11/2024
O novo guideline de insuficiênciaovariana prematura (IOP) da European Society of Human Reproduction and Embryology publicado agora no segundo semestre de 2024 trouxe recomendações não apenas para o adequado diagnóstico da condição, mas também para a definição da sua etiologia.
Sabemos que as causas de IOP podem ser iatrogênicas (como ooforectomia bilateral, quimioterapia para tratamento oncológico e radioterapia pélvica, facilmente determinadas a partir da anamnese) e não iatrogênicas, com destaque para as causas genéticas (síndrome de Turner, pré-mutação do X frágil e outras mutações genéticas mais raras) e auto-imune. Infelizmente, em 70 a 90% dos casos, nenhuma causa é determinada(IOP idiopática).
De acordo com o novo guideline, toda mulher com IOP de causa não iatrogênica deve se submeter à análise cromossômica, através do cariótipo, e à pesquisa da mutação do gene FMR1 (causadora daIOP relacionada ao X frágil). Nos casos em que estas duas investigações foram negativas, os autores recomendam que, caso disponível, teste genético adicional (sequenciamento de nova geração) seja realizado para identificação de outras possíveis genes que possam estar relacionados à etiologia da IOP.
A maior disponibilidade de testes genéticos tem diminuído o número de casos considerados idiopáticos e permitido a descrição de novos genes relacionados à condição. E, de acordo com os autores, a idade da paciente não deve ser utilizada como justificativa para limitar a realização dos testes genéticos.
Uma vez que os testes genéticos citados anteriormente sejam negativos, o próximo passo é a solicitação do anticorpo anti-21-hidroxilase para investigação de ooforite auto-imune. Este anticorpo é considerado o mais acurado, não se recomendando a dosagem de anticorpos anti-ovarianos.
Uma vez que o anticorpo anti-21-hidroxilase seja positivo, a mulher deve ser investigada para insuficiência adrenal (IA), uma vez que este anticorpo também está associado à doença de Addison. Se negativo, não há mais a necessidade de repetir a dosagem em outro momento, exceto se surgirem sintomas sugestivos de IA.
Ao contrário do que era recomendado no guideline anterior, esta nova atualização não mais recomenda que seja realizada dosagem do anticorpo anti-peroxidase (anti-TPO) como forma de avaliar a possibilidade de causa auto-imune de IOP, uma vez que há uma alta prevalência de positividade deste anticorpo na população geral.
No entanto, a dosagem de TSH deve ser realizada em toda mulher com diagnóstico de IOP, considerando a considerável prevalência (cerca de 20%) de disfunção tireoidiana auto-imune em mulheres com IOP e o impacto negativo do hipotireoidismo não tratado na saúde geral e na qualidade de vida. Se normal, o TSH deve ser repetido a cada 5 anos ou quando surgirem sintomas sugestivos de disfunção tireoidiana.