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Novo escore diagnóstico propõe simplificar o diagnóstico de deficiência de vasopressina.

Escrito por
Erik Trovao
Publicado em
8/5/2025

Recentemente, foi publicado no The Lancet Diabetes & Endocrinology, os resultados de um estudo que propõe um novo escore diagnóstico para diagnosticar deficiência de vasopressina (AVP-D), diferenciando esta condição da polidipsia primária (PP). A intenção dos autores em criar uma ferramenta que facilite este diagnóstico é justificada pelo fato de a diferenciação entre AVP-D e PP ser clinicamente desafiadora, especialmente devido à sobreposição de sintomas e à ausência de critérios laboratoriais simples para o diagnóstico inicial. Desta forma, o estudo objetivou avaliar o potencial diagnóstico de parâmetros laboratoriais basais e desenvolver um escore clínico prático para guiar decisões clínicas na primeira consulta, reduzindo a necessidade de testes dinâmicos invasivos.
Para isso, foram utilizados dados de dois estudos prospectivos multicêntricos (CODDI e CARGOx), ambos com participantes do Brasil, envolvendo 299 pacientes com polidipsia (ingestão demais de 3 litros de água por dia) e poliúria hipotônica (diurese acima de 50ml/Kg/dia e osmolaridade urinária abaixo de 800 mOsm/Kg). Os participantes foram submetidos ao teste de salina hipertônica, considerado padrão-ouro, e os dados laboratoriais basais, sintomas e histórico médico foram utilizados para desenvolver e validar um escore diagnóstico.
E quais foram as variáveis integrantes do escore final?
1. Sódio plasmático e osmolalidade plasmática: resultado da multiplicação de ambos dividido por 100.
2. Copeptina sérica: se acima de 4.9 pmol/L, subtrair 50 pontos.
3. Frequência de nictúria: somar 20 pontos se 2 vezes por noite ou somar 30 pontos se 3 ou mais vezes por noite.
4. Ingestão noturna de líquidos: somar 30 pontos se ingestão noturna de água acima de 1 litro.
5. Início súbito dos sintomas: somar 20 pontos se início súbito de poliúria ou polidipsia.
6. Disfunção hipofisária anterior: somar 50 pontos se presença de disfunção da adeno-hipófise.
7. Histórico de cirurgia hipofisária: somar 50 pontos se cirurgia hipofisária prévia.
Um ponto de corte no escore acima de 441 pontos proporcionou uma acurácia de 86% na identificação de AVP-D. Parâmetros laboratoriais simples também mostraram alto valor diagnóstico: sódio plasmático >145 mmol/L ou copeptina <4,9 pmol/L indicaram AVP-D com 100% de especificidade; já sódio <135 mmol/L ou copeptina >5,6 pmol/L excluíram AVP-D, sugerindo PP.
O uso inicial de testes basais pode reduzir significativamente a necessidade de testes invasivos. O escore proposto permite estratificação de risco na consulta inicial: pacientes com escores baixos (<415) podem excluir AVP-D com alta segurança, enquanto escores altos (>461) justificam início imediato de tratamento com desmopressina. Casos intermediários devem seguir para investigação adicional.
Embora o estudo tenha robustez metodológica e aplicação clínica imediata, limitações incluem a exclusão de pacientes com resistência à vasopressina e a dependência de ensaio específico para dosagem da copeptina (BRAHMS). Além disso, o uso de achados de imagem na ressonância magnética não foi útil para ser incluído no escore. No entanto, o escore proposto teve alta acurácia e potencial para encurtar o processo diagnóstico e evitar a realização de testes dinâmicos. Resta saber se o escore passará a integrar os guidelines sobre o tema.