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Novo consenso de vitamina D: avaliação diagnóstica
Escrito por
Erik Trovao
Publicado em
2/5/2024
No final de abril deste ano, tivemos a publicação de um novo consenso sobre avaliação do status e suplementação da vitamina D, gerado após uma conferência internacional intitulada “Controversies in Vitamin D”, que ocorreu em Florença em setembro de 2022. Após ampla discussão, as conclusões decorrentes do encontro deram origem a este novo consenso.
Além de elaborar uma detalhada discussão sobre o metabolismo da vitamina D e novas descobertas relacionadas a sua complexa fisiologia, o consenso é basicamente dividido em duas partes, uma abordando as recomendações referentes a avaliação do status da vitamina D e outra abordando a suplementação.
Avaliação do status da vitamina D
Melhor ponto de corte: os autores apontam a enorme discordância que existe entre as mais diversas sociedades em estabelecer um ponto de corte ideal, com algumas orientando níveis ideais acima de 20 ng/ml e outras acima de 30 mg/ml. Um dos principais fatores contribuintes para isso é a falta de padronização dos métodos de dosagem da 25-hidroxivitamina D (25OHD) nos diferentes estudos, o que contribui para os resultados heterogêneos. Também contribui para essa discordância o objetivo do alvo determinado por cada sociedade: manutenção da saúde óssea? Busca de benefícios extraesqueléticos? Desta forma, os autores não se posicionam sobre um alvo específico.
Em quem dosar: outro ponto de controvérsia trazido pelos autores é a indicação da dosagem de 25OHD: devemos fazer screening em toda a população ou testar apenas quem possui risco para deficiência? O posicionamento do consenso é que não seja realizada dosagem de rotina, especialmente em grupos com baixo risco de deficiência de vitamina D, uma vez que esta prática não é custo-efetiva e aumenta o risco de efeitos adversos por superdosagem. Desta forma, a dosagem deve ser limitada para grupos e populações específicas, a saber:
Idosos, indivíduos restritos ao domicílio ou institucionalizados, pessoas que trabalham muitas horas dentro de um estabelecimento ou veículo, trabalhadores noturnos, pessoas com pele escura, indivíduos sedentários, pessoas com doenças crônicas (diabetes, doença renal crônica, síndromes de má absorção, doenças hepáticas, doenças da paratireoide), obesidade (especialmente se tiver circunferência abdominal muito elevada), indivíduos pós-cirurgia bariátrica, pessoas em uso de medicações que aumentam catabolismo da vitamina D: carbamazepina, fenobarbital, dexametasona, rifampicina, nifedipina, espironolactona, ritonavir, ciproterona.
E, mesmo nestes grupos de maior risco, os autores recomendam que o clínico só realize a dosagem se houver realmente justificativa para tal, individualizando bem cada caso. Afinal, estes grupos representam a maioria da população, de forma que ao realizar a dosagem em todos, não seria resolvido o problema da dosagem excessiva, com aumento de custos para a saúde (não há comprovação de custo-efetividade mesmo nestes grupos específicos).
Os autores também sugerem que, se possível, seja dado preferência a ensaios padronizados para dosagem da 25-hidroxivitamina D, em especial a cromatografia líquida-espectrometria de massa. Também mantém a dosagem da 25-hidroxivitamina D total como a mais indicada para avaliação do status de vitamina D, já que a dosagem de outros metabólitos, como 25OHD livre ou biodisponível, ainda tem evidências limitadas.
Sobre as considerações relacionadas à suplementação de vitamina D, falaremos em outro texto.