Novas Técnicas de Avaliação de Risco Cardiovascular em Prevenção Primária

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Novas Técnicas de Avaliação de Risco Cardiovascular em Prevenção Primária

Os modelos atuais utilizados para estimar o risco cardiovascular não atuam com precisão em todas as populações, como por exemplo, no sexo feminino e nos mais jovens. Além disso, é relevante a quantidade de indivíduos classificados como risco intermediário, para os quais as estratégias preventivas poderiam ser mais precisas. Neste contexto, novas técnicas de avaliação de risco cardiovascular como o escore de calcificação artéria coronária (CAC), ultrassom arterial, escores de risco poligênico (PRS) e de risco metabólico, podem aumentar a previsão de risco nestas populações.

CAC: As principais diretrizes tendem a indicar o escore de cálcio coronariano nos indivíduos de risco intermediário. Naqueles com resultado zero, a taxa de mortalidade é muito baixa enquanto a terapia com estatinas é indicada quando é maior que 100 unidades Agaston (UA), indicando um risco de eventos cardiovasculares em 10 anos >7,5%. Entretanto, há informações importantes não consideradas nesta estratificação. Por exemplo, uma mesma pontuação pode indicar diferentes tipos e locais de calcificação, os quais refletem uma maior ou menor vulnerabilidade de placa. Padrões de microcalficicação, (visualizados no OCT ou IVUS) ou difusos e de menor densidade (vistos na TC) traduzem maior risco, enquanto disposições nodulares, focais, coalescentes indicam o oposto. (Quer saber mais sobre como interpretar o escore de cálcio? Checa este nosso podcast: https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/podcast-cardiopapers-como-interpretar-o-escore-calcio-e-outras-duvidas-sobre-coronariopatia/)

Ultrassom arterial: A demonstração de placas carotídeas parece ser superior ao espessamento miointimal na detecção de DAC precoce. Entretanto, quando comparado ao CAC, este ainda se mostra superior à predição de doença cardiovascular.

Escore de risco poligênico: Ao contrário de doenças monogênicas, como a hipercolesterolemia familiar, a etiologia genética da doença arterial coronariana (DAC) parece estar associada a muitas variáveis. Assim, o PRS é uma pontuação comparativa composta por um conjunto de variantes genéticas associadas a determinadas doenças. O benefício da realização do sequenciamento genético é que, realizado apenas uma vez, demonstra a trajetória de risco independentemente da idade do indivíduo, além de direcionar de modo assertivo as terapias farmacológicas e não farmacológicas. Entretanto, a presença do marcador genético não é determinante, já que há fatores ambientais e comportamentais que podem ser modificáveis. As principais dificuldades estão relacionados à reprodutibilidade e viés de seleção étnica.

Marcadores de risco Multiômicos: A análise das variações genéticas inclui avaliação da composição bioquímica e seus marcadores metabólicos como aminoácidos, lipídeos e outras macromoléculas. Técnicas de imunoensaio, espectrometria de massa e ressonância nuclear magnética podem, por exemplo, analisar a presença e composição de partículas lipídicas menores do que as normalmente analisadas (LDL-C, triglicérides, etc). Desta forma, há identificação de marcadores envolvidos na fisiopatologia do desenvolvimento da aterosclerose de maneira precoce. Os principais entraves estão relacionados à variação metabólica nas diferentes coortes e após introdução das terapias hipolipemiantes.

  • Impressão: A proposta destas novas técnicas de avaliação de risco cardiovascular envolve uma abordagem individualizada de estimativa de risco cardiovascular, e tais métodos parecem ser interessantes especialmente quando combinados. Por exemplo, PRS e/ou multiômicos podem melhorar a avaliação de risco fornecida pelo CAC, indicando os indivíduos que se beneficiariam da sua realização em idades mais jovens (<40 anos) e da intensificação de terapias farmacológicas e de mudança do estilo de vida. Até porque, como sabemos, a aderência à terapia preventiva é um desafio, especialmente na infância e adolescência, e a identificação precoce destes marcadores individuais seria uma motivação para o engajamento.

Fonte:

Verma K, Inouye M, Meikle P, et al. New Cardiovascular Risk Assessment Techniques for Primary Prevention. J Am Coll Cardiol. 2022 Jul, 80 (4) 373–387. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0735109722051026?via%3Dihub