Nova metanálise: agonistas do receptor de GLP-1 e o risco de eventos cerebrovasculares

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O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é um fator de risco bem reconhecido para desfechos cerebrovasculares adversos. Aproximadamente um terço de todos os pacientes com AVC têm DM2. Além disso, pacientes com DM2 apresentam maior mortalidade, maior tempo de internação e maior taxa de recorrência após um episódio de AVC. Diante disso, a abordagem de tais pacientes deve buscar também redução do risco de eventos cerebrovasculares.

Em comparação com o placebo, os agonistas de receptor de GLP-1 (GLP-1 RA) já se mostraram capazes de reduzir eventos cardiovasculares adversos em pacientes com DM2. No entanto, os efeitos desses agentes no risco de acidente vascular cerebral têm sido inconsistentes entre os ensaios clínicos. Com exceção do estudo SUSTAIN-6 e uma análise exploratória do estudo REWIND, a caracterização da natureza do AVC (isquêmico ou hemorrágico) também não foi relatada em outros estudos de desfechos cardiovasculares. Portanto, os efeitos dos GLP-1 RA nos subtipos de AVC não foram estabelecidos nas metanálises disponíveis. Além disso, nenhum estudo analisou sistematicamente se esses efeitos diferem entre os subgrupos com base nas características basais dos participantes do estudo, como idade, peso corporal, função renal, estado glicêmico e duração do diabetes.

Um recente revisão sistemática e metanálise de ensaios randomizados buscou investigar os efeitos dos GLP-1 RA em desfechos cerebrovasculares adversos e investigar o impacto das variáveis basais sobre esses efeitos. O estudo foi publicado no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism em fevereiro deste ano.

O uso de GLP-1 RA no DM2 foi associado a um risco significativamente menor de desfechos cerebrovasculares adversos versus placebo/comparador ativo (RR, 0,83; IC 95%, 0,76-0,91). Combinando dados de ensaios de resultados cardiovasculares (n = 8), o tratamento com GLP-1RA versus placebo foi associado a risco reduzido de AVC não fatal (RR, 0,85; IC 95%, 0,76-0,94), mas não AVC fatal ( RR,0,80; IC95%,0,61-1,05).

O uso de GLP-1RA foi associado à redução do risco de AVC isquêmico (RCTs=12; RR,0,73; 95% CI,0,60-0,89), composto de AVC isquêmico/AIT (RCTs=16; RR,0,76; 95% CI,0,65-0,90), mas não AVC hemorrágico (RCTs=3; RR,0,92; 95%CI,0,51-1,64). Os benefícios foram estatisticamente significativos para dulaglutida, semaglutida subcutânea/oral (p<0,05). Os benefícios do tratamento foram significativamente maiores em subgrupos de maior TFGe e menor duração do diabetes.

Os resultados apresentados indicam benefício do uso de GLP1-RA em pacientes com DM2, na prevenção de AVC. O American Association of Clinical Endocrinology Clinical Practice Guideline, publicado em 2022, destaca os GLP1-RA e a pioglitazone em pacientes com DM2 e AVC prévio.

Referências:

Mainak Banerjee, Rimesh Pal, Satinath Mukhopadhyay, Kirthana Nair, GLP-1 Receptor Agonists and Risk of Adverse Cerebrovascular Outcomes in Type 2 Diabetes: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials, The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, 2023.

American Association of Clinical Endocrinology Clinical Practice Guideline: Developing a Diabetes Mellitus Comprehensive Care Plan—2022 Update.