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Nova droga para tratamento da hiperplasia adrenal congênita
Escrito por
Erik Trovao
Publicado em
20/6/2024
A hiperplasia adrenal congênita (HAC) é uma desordem genética transmitida de forma autossômica recessiva que tem como principal causa a deficiência da enzima 21-hidroxilase. A inibição desta enzima bloqueia os passos enzimáticos necessários para a síntese de cortisol e aldosterona no córtex da adrenal, acumulando os precursores que são desviados para a síntese de andrógenos. Como há queda da secreção de cortisol, os níveis de ACTH aumentam causando a hiperplasia da adrenal e gerando hiperandrogenismo.
O único tratamento vigente no momento para a HAC é a reposição de glicocorticoide que, como bem sabemos, pode estar associada a efeitos adversos especialmente se em doses suprafisiológicas, como perda de massa óssea, resistência à insulina e hipertensão. No entanto, estudo publicado no início deste mês no The New England Journal of Medicine trouxe resultados positivos com uma nova medicação para a HAC: o crinecerfont.
Esta droga é um antagonista do receptor do CRH na hipófise, reduzindo, assim, a secreção de ACTH. É administrada por via oral e já tinha demonstrado, em estudo de fase 2, eficácia em reduzir os níveis séricos de ACTH, 17-hidroxiprogesterona e androstenediona, o que levou ao atual estudo de fase 3.
Foram selecionados 182 adultos (>18 anos) com HAC, randomizados na proporção de 2:1 para receber crinecerfont (122 participantes) ou placebo (60 participantes) por um período de 24 semanas. Ao final do estudo, houve redução de 27,3% na dose de glicocorticoide no grupo que fez uso da droga versus redução de 10,3% no grupo placebo (p<0,001). Com o crinecerfont, 63% dos participantes conseguiu atingir doses fisiológicos do glicocorticoide (isso aconteceu com apenas 10% no grupo placebo).
Houve também redução dos níveis de androstenediona com o crinecerfont já com 4 semanas, enquanto que, com o placebo, houve aumento. Também houve redução dos níveis de 17-hidroxiprogesterona. O perfil de tolerabilidade foi similar entre os dois grupos. Os efeitos adversos foram leves e moderados, sendo fadiga e cefaleia os mais comuns nos dois grupos, embora fadiga tenha sido mais frequente no grupo do crinecerfont do que no placebo.
Parece, portanto, que temos a perspectiva de uma nova droga no tratamento da hiperplasia adrenal congênita, com potencial de reduzir a dose diária necessária de glicocorticoide.