No POCUS da valva mitral, o que é o Sinal da Tenda?

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No POCUS da valva mitral, o que é o Sinal da Tenda?

Mesmo em aparelhos de ecografia não dotados de Doppler, é possível identificar insuficiência mitral funcional através de uma alteração morfológica da valva: o sinal da Tenda.

Durante a coaptação mitral (sístole), geralmente o plano dessa coaptação se alinha ao mesmo plano de implantação da valva (movimentação sistólica normal) e até além desse plano (movimentação sistólica exagerada que acontece no prolapso).

Em casos de afastamento dos músculos papilares causados por dilatação do ventrículo esquerdo, a movimentação sistólica dos 2 folhetos será restrita e consequentemente a coaptação acontecerá acima do plano, o que dará uma imagem parecida a uma tenda indígena:

Demonstração do mecanismo de formação do Tenting, vista no sinal da tenda.
Corte apical 4 câmaras de 2 pacientes demonstrando coaptação alterada com o sinal da tenda (esquerda), e coaptação normal no plano do anel (imagem da direita)

Além de ser um sinal de refluxo mitral, esta alteração morfológica indica que a doença primária do paciente está no ventrículo esquerdo, que, por sofrer remodelamento tensiona secundariamente os folhetos mitrais. Este detalhe é importantíssimo para ser considerado na terapia, já que tratar o ventrículo esquerdo é mais importante que o tratamento intervencionista na valva mitral.

Mas cuidado, muitos casos podem ter um mecanismo misto, ou seja, a valva mitral tem refluxo por doença estrutural que secundariamente levou a dilatação ventricular esquerda e culminou na piora do grau do refluxo. Esses casos são melhor definidos pela ecocardiografia transtorácica e até transesofágica, inclusive para quantificar mais eficientemente o grau de refluxo (na experiência POCUS, o capítulo de maior variabilidade interobservador e portanto discordância com a ecocardiografia é a quantificação das valvulopatias).

Você sabia ? quando o tensionamento é somente de um dos folhetos (tenting assimétrico, diferente do tenting simétrico descrito acima) teremos um refluxo excêntrico muito visto na doença coronariana que afeta o fluxo sanguíneo de um dos músculos papilares.

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