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Miocardite após vacina contra COVID-19: mito ou realidade?
Escrito por
Mônica Ávila
Publicado em
24/3/2022
A vacina BNT162b2 (Pfizer–BioNTech) é uma vacina aprovada pelas agências regulatórias contra a COVID-19. Após a vacinação em massa, começou uma monitorização dos efeitos adversos da vacina. Um estudo de 2021 sobre a vacina BNT162b2 (Pfizer–BioNTech) em adolescentes em Israel encontrou 304 casos de miocardite de 20 de dezembro de 2020 a 31 de maio de 2021. Destes, 196 haviam recebidos 2 doses da vacina e 108 não haviam recebido vacina. A apresentação clínica desses casos foi leve em 95% e 1 caso fulminante fatal. A incidência de miocardite em comparação com a média histórica foi maior após a vacina, com risco do aparecimento de miocardite após 30 dias da segunda dose da vacina de 2,35 (95% IC, 1.10 a 5.02) quando comparados com não vacinados e uma chance maior no sexo masculino e idade de 16 a 19 anos, com uma taxa de 1 em 6637.
Mais recentemente, foi publicado a incidência de hospitalizações por miocardite em adolescentes entre junho e outubro de 2021 após a vacina BNT162b2 (Pfizer–BioNTech) contra COVID-19. Durante o período do estudo, no qual 404.407 adolescentes receberam a primeira dose e 326.463 receberam a segunda dose da vacina, foram reportados 16 casos de miocardite que necessitaram de hospitalização. Desses, 1 ocorreu em um adolescente não vacinado. Dos 15 casos vacinados, 1 ocorreu após 21 dias da primeira dose da vacina, 12 após a primeira semana da segunda dose e 2 acima de 30 dias da segunda dose. Esses 2 casos tardios foram considerados não relacionados a vacinação, sendo então analisados os 13 que foram relacionados a vacina.
Todos os 13 casos foram leves, com uma média de hospitalização de 3,1 dias e sem readmissões em 30 dias de seguimentos pós-alta. Desses casos, 92% eram do sexo masculino, 1 (8%) com 12 anos, 5 com (38%) 13 anos, 4 (30%) com 14 e 3 (23%) com 15 anos , 84% saudáveis e sem comorbidades. Dos principais sintomas, 100% apresentaram dor torácica, seguido de febre (30%), dispneia (30%) e palpitações (15%). Em relação ao exame físico, nenhum paciente apresentou instabilidade hemodinâmica. O eletrocardiograma era normal em 53% dos pacientes e em 38% se apresentava com elevação do segmento ST. Todos os pacientes apresentaram elevação de troponina e 92% elevação da proteína C reativa. O ecocardiograma demonstrou derrame pericárdico em 3 (23%) pacientes e alteração da função ventricular em 2 (15%). Nesses dois casos de disfunção ventricular, houve a recuperação precoce da fração de ejeção ainda durante a hospitalização. Em relação ao tratamento, 10 pacientes receberam anti-inflamatórios não esteroidais e 1 recebeu corticosteroides.
O risco estimado de miocardite em adolescentes do sexo masculino após a primeira dose foi de 0,56 por 100.000 e 8,09 casos por 100.000 após a segunda dose da vacina. O risco estimado para o sexo feminino foi 0 após a primeira dose e 0,69 casos por 100.000 após a segunda dose. A taxa de miocardite entre adolescentes do sexo masculino entre 12-15 anos que receberam duas doses da vacina foi de 1 caso por 12,361 e o risco correspondente para meninas foi de 1 caso por 144.439.
Analisando os dados, pode-se concluir que a incidência de miocardite levando a internação entre adolescentes que receberam as duas doses da vacina Pfizer foi baixa, entretanto, foi maior do que em não vacinados.
Referências
- Mevorach D, Anis E, Cedar N, et al. Myocarditis after BNT162b2 mRNA vaccine against Covid-19 in Israel. N Engl J Med 2021;385:2140-9
- Mevorach D, Anis E, Cedar N, Hasin T, Bromberg M, Goldberg L, Parnasa E, Dichtiar R, Hershkovitz Y, Ash N, Green MS, Keinan-Boker L, Alroy-Preis S. Myocarditis after BNT162b2 Vaccination in Israeli Adolescents. N Engl J Med. 2022 Mar 10;386(10):998-999. doi: 10.1056/NEJMc2116999. Epub 2022 Jan 26. PMID: 35081295; PMCID: PMC8823652.