Miocardite após vacina contra COVID-19: mito ou realidade?

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Miocardite após vacina contra COVID-19: mito ou realidade?

A vacina BNT162b2 (Pfizer–BioNTech) é uma vacina aprovada pelas agências regulatórias contra a COVID-19. Após a vacinação em massa, começou uma monitorização dos efeitos adversos da vacina. Um estudo de 2021 sobre a vacina BNT162b2 (Pfizer–BioNTech) em adolescentes em Israel encontrou 304 casos de miocardite de 20 de dezembro de 2020 a 31 de maio de 2021. Destes, 196 haviam recebidos 2 doses da vacina e 108 não haviam recebido vacina. A apresentação clínica desses casos foi leve em 95% e 1 caso fulminante fatal. A incidência de miocardite em comparação com a média histórica foi maior após a vacina, com risco do aparecimento de miocardite após 30 dias da segunda dose da vacina de 2,35 (95% IC, 1.10 a 5.02) quando comparados com não vacinados e uma chance maior no sexo masculino e idade de 16 a 19 anos, com uma taxa de 1 em 6637.

Mais recentemente, foi publicado a incidência de hospitalizações por miocardite em adolescentes entre junho e outubro de 2021 após a vacina BNT162b2 (Pfizer–BioNTech) contra COVID-19. Durante o período do estudo, no qual 404.407 adolescentes receberam a primeira dose e 326.463 receberam a segunda dose da vacina, foram reportados 16 casos de miocardite que necessitaram de hospitalização. Desses, 1 ocorreu em um adolescente não vacinado. Dos 15 casos vacinados, 1 ocorreu após 21 dias da primeira dose da vacina, 12 após a primeira semana da segunda dose e 2 acima de 30 dias da segunda dose. Esses 2 casos tardios foram considerados não relacionados a vacinação, sendo então analisados os 13 que foram relacionados a vacina.

Todos os 13 casos foram leves, com uma média de hospitalização de 3,1 dias e sem readmissões em 30 dias de seguimentos pós-alta. Desses casos, 92% eram do sexo masculino, 1 (8%) com 12 anos, 5 com (38%) 13 anos, 4 (30%) com 14 e 3 (23%) com 15 anos , 84% saudáveis e sem comorbidades. Dos principais sintomas, 100% apresentaram dor torácica, seguido de febre (30%), dispneia (30%) e palpitações (15%). Em relação ao exame físico, nenhum paciente apresentou instabilidade hemodinâmica. O eletrocardiograma era normal em 53% dos pacientes e em 38% se apresentava com elevação do segmento ST. Todos os pacientes apresentaram elevação de troponina e 92% elevação da proteína C reativa. O ecocardiograma demonstrou derrame pericárdico em 3 (23%) pacientes e alteração da função ventricular em 2 (15%). Nesses dois casos de disfunção ventricular, houve a recuperação precoce da fração de ejeção ainda durante a hospitalização. Em relação ao tratamento, 10 pacientes receberam anti-inflamatórios não esteroidais e 1 recebeu corticosteroides.

O risco estimado de miocardite em adolescentes do sexo masculino após a primeira dose foi de 0,56 por 100.000 e 8,09 casos por 100.000 após a segunda dose da vacina. O risco estimado para o sexo feminino foi 0 após a primeira dose e 0,69 casos por 100.000 após a segunda dose. A taxa de miocardite entre adolescentes do sexo masculino entre 12-15 anos que receberam duas doses da vacina foi de 1 caso por 12,361 e o risco correspondente para meninas foi de 1 caso por 144.439.

Analisando os dados, pode-se concluir que a incidência de miocardite levando a internação entre adolescentes que receberam as duas doses da vacina Pfizer foi baixa, entretanto, foi maior do que em não vacinados.

Referências

  1. Mevorach D, Anis E, Cedar N, et al. Myocarditis after BNT162b2 mRNA vaccine against Covid-19 in Israel. N Engl J Med 2021;385:2140-9
  2. Mevorach D, Anis E, Cedar N, Hasin T, Bromberg M, Goldberg L, Parnasa E, Dichtiar R, Hershkovitz Y, Ash N, Green MS, Keinan-Boker L, Alroy-Preis S. Myocarditis after BNT162b2 Vaccination in Israeli Adolescents. N Engl J Med. 2022 Mar 10;386(10):998-999. doi: 10.1056/NEJMc2116999. Epub 2022 Jan 26. PMID: 35081295; PMCID: PMC8823652.