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Metformina Sistêmica tem papel sobre o tratamento do melasma?
Escrito por
Cláudia Elise Ferraz Silva
Publicado em
15/7/2024
Melasma é uma doença dermatológica pigmentar crônica com grande impacto na qualidade de vida do paciente, cujo tratamento ainda é um desafio. Devido à natureza recorrente e complexa desta doença, é muito difícil estabelecer um único tratamento universalmente aceito. As terapias atuais incluem substâncias tópicas, peelings químicos, tratamento a laser, agentes sistêmicos, além da consensual fotoproteção ampla.
Foi demonstrada que a metformina diminui o nível cíclico de AMPc (AMP cíclico), fundamental na síntese de melanina e na pigmentação da pele in vitro e in vivo, com alguns trabalhos demonstrando algum papel na redução da hiperpigmentação com seu uso tópico. Estas informações motivaram um estudo comparativo quanto à eficácia e segurança de diferentes concentrações de metformina sistêmica combinadas a sessões quinzenais de peeling de TCA 25% x peeling de TCA sozinho + placebo. Foram acompanhados 60 pacientes e o resultado da intervenção avaliada com a escala MASI (Melasma Area and Severity Index) e MELASQOL ([índice de impacto na qualidade de vida do Melasma).
Todos os grupos obtiveram melhora no MAIS e MELASQOL, mas o grupo tratado com metformina 1000 mg/dia + peeling de TCA 25% obteve melhor pontuação na escala MASI, com diferença estatisticamente significante, e resultados ainda mais elevados nos pacientes com melasma epidérmico. Isto pode ser atribuído à deposição de melanina mais superficial ser mais facilmente removida
Atribui-se a ação positiva desta droga em inibir pigmentação por sua ação em nível molecular, através da redução da expressão de proteínas melanogênicas como a tirosinase e as proteínas relacionadas à tirosina (TRP-1 e TRP-2). Há redução do AMPc que resulta em menor expressão do fator de transcrição associado à microftalmia – gene considerado fundamental na sobrevivência dos melanócitos.
Embora neste estudo, o grupo com dose de 100 mg de metformina tenha apresentado uma frequência alta de desconforto gástrico (náuseas ou vômitos em até 70%), este não foi suficiente para motivar a suspensão do tratamento oral.
Ainda não há dados quanto ao benefício do uso da metformina oral isoladamente. Mas poderemos estar diante de mais um ativo barato e acessível para incrementar o tratamento do melasma dos nossos pacientes. Vamos ficar atentos às próximas publicações!
Fonte: Ismail SA, Mohamed GA, Mohamedeen KN, Sotohy RSA, Bakr RM. Does Systemic Metformin Have a Role in Treating Melasma? Dermatol Surg. 2024 Apr 1;50(4):366-371. doi: 10.1097/DSS.0000000000004092. Epub 2024 Feb 28. PMID: 38416809.