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Metformina durante a gestação: novos dados!
Escrito por
Luciano França de Albuquerque
Publicado em
6/2/2023
Mulheres com diabetes, gestacional ou prévio, particularmente aquelas com hiperglicemia, têm risco elevado de complicações na gravidez. A insulina segue sendo o tratamento padrão, porém a metformina está sendo cada vez mais usada durante a gravidez, apesar da relativa escassez de dados de segurança na literatura médica. A metformina atravessa a barreira placentária, com exposição fetal. Atuando pela ativação da via de sinalização da AMP quinase, a droga leva a redução na gliconeogênese, supressão da respiração mitocondrial e potencial inibição do crescimento. Ainda não está claro como esses efeitos metabólicos, quando exercidos no útero, afetam o crescimento e o desenvolvimento após o nascimento. Segue a questão: é seguro usar a metformina durante a gestação?
O estudo MiTy, publicado em 2020, foi um ensaio randomizado e controlado por placebo que investigou os efeitos da metformina em gestantes com DM2, em adição ao esquema padrão de insulinoterapia. As mulheres do grupo metformina tiveram menor ganho de peso, melhor controle glicêmico, com doses mais baixas de insulina, além de menor incidência de parto cesáreo. Entre os desfechos dos recém-nascidos, houve redução da macrossomia, porém com aumento no percentual de bebês pequenos para a idade gestacional (PIG).
Publicação recente no jornal The Lancet apresentou os dados de seguimento dessas crianças por 2 anos. Não houve diferença no escore Z do IMC ou na soma das dobras cutâneas nos bebês expostos à metformina. Também não houve diferença na trajetória de crescimento do IMC. No entanto, nos meninos, o ganho de peso foi maior nos primeiros 6 meses, voltando a faixa semelhante aos 24 meses de idade. Alguns fatores como IMC pré-gravidez, menor tempo de aleitamento materno, nível socioeconômico mais baixo e o tempo de sono reduzido foram associados ao aumento do escore Z do IMC.
As evidências na literatura sobre o impacto da exposição intrauterina à metformina são conflitantes. No estudo controlado randomizado PregMet, crianças de mães com síndrome dos ovários policísticos expostas à metformina tiveram um IMC mais alto aos 4, 5 e 10 anos de idade. No estudo MiG, filhos de mulheres com diabetes gestacional que usaram metformina apresentaram características de aumento da adiposidade e do IMC aos 9 anos - coorte Auckland, porém sem diferença nas crianças da coorte australiana, que tinha pior controle glicêmico prévio.
Dada a incidência crescente de diabetes tipo 2 na gravidez e o aumento do uso de metformina nesses casos, os resultados do seguimento do Mity trial são tranquilizadores em relação ao uso de metformina durante a gravidez em mulheres com diabetes tipo 2 e à saúde a longo prazo de seus filhos. Medidas preventivas como controle do peso pré-gestacional e incentivo ao aleitamento materno se mostraram benéficas e devem ser estimuladas. O acompanhamento futuro dessa coorte é necessário para definir a persistência da segurança no uso da metformina durante a gestação.