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A "menopausa precoce" aumenta o risco de demência?
Escrito por
Erik Trovao
Publicado em
17/3/2022
A insuficiência ovariana prematura (IOP), conhecida popularmente como “menopausa precoce”, é caracterizada pela falência da função ovariana antes dos 40 anos de idade. Esta condição clínica tem sido associada ao aumento do risco de osteoporose e de mortalidade cardiovascular, justificando sempre a reposição estrogênica, exceto se na presença de alguma contra-indicação. Uma outra hipótese tem sido também levantada: a de que a "menopausa precoce" aumenta o risco de demência.
Recente estudo publicado neste mês de março de 2022, na forma de e-poster em uma conferência patrocinada pela American Heart Association, sugeriu não apenas um risco aumentado de demência entre mulheres com IOP como também o início mais precoce do quadro demencial (antes dos 65 anos de idade).
Hao e colaboradores selecionaram 153.291 mil mulheres com média de idade de 60 anos no Reino Unido e as seguiram por uma média de tempo de 11,7 anos. Elas foram categorizadas em 5 grupos de acordo com a idade de início da menopausa: < 40; 40 a 44; 45 a 51; 51 a 55; e > 50 anos.
Comparadas com mulheres que entraram na menopausa entre 50 e 51 anos, aquelas que experimentaram a falência ovariana antes dos 40, tiveram 35% maior risco de desenvolver um quadro demencial. Além disso, o risco de desenvolver demência precoce (<65 anos) foi 1,3 vezes maior, independente da sua etiologia: Doença de Alzheimer, doença vascular ou outras causas.
Acredita-se que o estrógeno exerça funções neurológicas importantes, sendo possível que sua deficiência aumente a chance de lesões neurodegenerativas no cérebro e acelere a sua progressão. Estes efeitos explicariam o mecanismo pelo qual a "menopausa precoce" aumenta o risco de demência. Mais estudos são, no entanto, necessários para entender o real papel do estrógeno no sistema nervoso central e na função cognitiva.
Vale ressaltar, no entanto, que o estudo acima citado não diferenciou as diversas etiologias de IOP, nem mesmo avaliando separadamente aquelas mulheres com causas cirúrgicas. Podemos, então, questionar se qualquer fator causal da IOP estaria envolvido da mesma forma com o potencial risco de demência. Afinal, a IOP pode ter múltiplas causas genéticas (a maioria não possível de identificação na prática clínica) que poderiam, por si só, aumentar o risco de demência, sem que a falência estrogênica fosse realmente o fator central.
Muito menos podemos deduzir, a partir dos dados apresentados, que a reposição estrogênica teria algum efeito protetor contra a demência. Embora já existam evidências indicando que a terapia hormonal, em mulheres que atingiram a menopausa na idade considerada habitual, possa reduzir o risco de demência, ainda é preciso estudos que mostrem o mesmo benefício em mulheres que atingiram a menopausa com menos de 40 anos de idade.