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Melhor capacidade cardiorrespiratória está associada a menor mortalidade?

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Texto escrito pelo Dr Aluísio Macedo Jr, mestre em medicina pela UFPE e cardiologista do HC-UFPE.

Todos já ouvimos falar sobre capacidade cardiorrespiratória (CCR) nem que seja quando assistimos algum programa esportivo ou vamos a academia na empolgação de melhorar nosso condicionamento físico. Nossa CCR depende de um complexo e interligado processo fisiológico que envolve a função respiratória, cardiovascular e musculoesquelética. Além disso, fatores genéticos podem influenciar em até 50% na nossa capacidade cardiorrespiratória.

E como medir nossa CCR? Neste cenário, o teste cardiopulmonar (TCP) ou ergoespirometria é considerado o padrão ouro e provê uma medida acurada direta do VO2 máximo ou de pico através da análise dos gases, além de trazer uma riqueza de outras informações.

DICA: lembra qual a diferença entre VO2 máximo e VO2 de pico?

  • VO2 máximo é definido como a incapacidade do organismo em aumentar o consumo de oxigênio a despeito de um incremento na carga de trabalho, trocando em miúdos, é o volume máximo de O2 que um indivíduo consegue captar, transportar até as mitocôndrias em nível muscular e produzir energia necessária para manter uma determinada demanda metabólica no esforço. Ao alcançar este ponto, atinge-se um platô na curva do VO2 que geralmente dura pouco tempo e classicamente chamamos de VO2 máximo. Este platô não é visto em todos os indivíduos e por isso chamamos de VO2 de pico o maior valor de VO2 alcançado na ausência de platô.

Já existe uma bem estabelecida relação inversa entre CCR e mortalidade. Então qual é a novidade deste estudo? Até então, a maioria dos trabalhos utilizavam medidas estimadas da CCR para correlacionar com a mortalidade. Além disso, muitos pacientes eram avaliados em cicloergômetro o qual sabemos que pode subestimar em torno de 10 a 20% o VO2 máximo em relação a esteira por utilizar um conjunto de grupamento muscular menor. Outro dado para se ressaltar é que as mulheres, reconhecidamente possuidoras de um VO2 menor do que os homens, não eram analisadas separadamente. E finalmente, um dos estudos clássicos neste assunto foi realizado em uma população nórdica, bem diferente da nossa.

No presente estudo foram feitas análises estratificadas por sexo em indivíduos saudáveis com medida direta do VO2 com TCP em esteira. Outro dado importante, foi uma coorte com número grande de indivíduos, 4137 (2326 homens, 1811 mulheres), incluindo uma larga faixa de idade 18-85 anos (média de 43 anos) com longo follow-up (média de 24,2 anos) onde correlacionou-se CCR com mortalidade por todas as causas, mortalidade cardiovascular e por câncer.

Neste estudo, houve 727 mortes (524 homens, 203 mulheres). Participantes do grupo com baixa CCR apresentaram 31%, 34% e 34% maior probabilidade de morrerem por qualquer causa, por DCV e por câncer, respectivamente, do que aqueles pertencentes ao grupo de alta CCR (p < 0,001). Além disso, cada 1 MET (equivalente metabólico) de aumento na CCR foi associado com uma redução de 11,6%, 16,1% e 14% na mortalidade por todas as causas, por DCV e câncer, respectivamente, independente dos fatores de risco tradicionais.

Alguns aspectos relevantes devem ser mencionados aqui. Primeiro, > 90% da população analisada era de não hispânicos brancos, o que não reflete a nossa miscigenação. Como exposto acima, os fatores genéticos influenciam sobremaneira na CCR. Segundo, o menor número de mortes no grupo das mulheres, especialmente mortes por DCV, reduziu o poder estatístico. Portanto, resultados relacionados a mortalidade por DCV nas mulheres devem ser interpretados com cautela. Terceiro, foi uma coorte dentro de um período entre 1968-2016 onde houve uma evolução tremenda na medicina com novos procedimentos, medicamentos e tecnologias que contribuíram para o aumento da expectativa de vida neste período. Como estas mudanças podem ter influenciado na relação entre CCR e mortalidade não se sabe ao certo. Finalmente, informações sobre mudanças no estilo de vida durante o follow-up não foram avaliadas. Por exemplo, um indivíduo que já havia realizado TCP e apresentou uma baixa CCR e depois de alguns anos adentrou em algum programa de exercício regular contínuo ou vice-versa, certamente isso pode ter mudado seu desfecho.

Apesar das limitações descritas, é um estudo observacional bem interessante mostrando mais uma vez uma forte relação inversa entre CCR e mortalidade. Óbvio que o ideal seria trabalhos randomizados controlando variáveis como modificações no estilo de vida, por exemplo. Mas, em resumo, fazendo uma analogia com mundo moderno da bitcoin, a moeda digital, talvez o MET seja nossa moeda de saúde. Quem tem mais se torna ´´mais rico``. E você? Vai ficar parado aí? Corra atrás para juntar suas moedinhas!!!

Referência:

Imboden MT, Harber MP, Whaley MH, Finch WH, Bishop DL, Kaminsky LA. Cardiorespiratory fitness and mortality in healthy men and women. J Am Coll Cardiol 2018;72:2283–92.