A medicina chinesa pode mudar minha prática na insuficiência cardíaca?

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A medicina chinesa pode mudar minha prática na insuficiência cardíaca?

Uma medicação tradicional chinesa - qiliqiangxin - reduziu a hospitalização por insuficiência cardíaca e morte cardiovascular em pacientes com insuficiência cardíaca e fração de ejeção reduzida (ICFEr), de acordo com os resultados do estudo QUEST, apresentados no Congresso ESC 2023.

Qiliqiangxin é um extrato da medicina tradicional chinesa obtido a partir de 11 tipos de ervas. Em um estudo piloto, qiliqiangxin havia reduzido os níveis de BNP, e melhorado sintomas de pacientes com ICFEr, quando associado ao tratamento padrão para insuficiência cardíaca. Estudos pré-clínicos também indicaram que qiliqiangxin tem efeitos benéficos na atenuação da fibrose miocárdica e remodelamento cardíaca.

O ensaio clínico QUEST avaliou a eficácia clínica e a segurança de qiliqiangxin em pacientes com insuficiência cardíaca em pacientes com ICFEr.

Este estudo avaliou pacientes adultos com ICFEr com FE ≤ 40% e NT-proBNP ≥ 450 pg/ml, que estiveram em um regime de tratamento clínico otimizado para insuficiência cardíaca pelo menos duas semanas antes da inclusão. Os pacientes foram randomizados em proporção de 1:1 para receber qiliqiangxin (quatro cápsulas, três vezes ao dia) ou placebo, além dos medicamentos padrão para insuficiência cardíaca crônica. O desfecho primário foi um composto de hospitalização por insuficiência cardíaca ou morte cardiovascular.

Ao todo, 3.110 pacientes foram incluídos na análise. A idade média era de 62 anos e 72,1% eram homens. A FE média era de 32%, e a mediana de NT-proBNP era de 1730,80 pg/ml. Durante o acompanhamento médio de 18,3 meses, o desfecho primário ocorreu em 389 pacientes (25,02%) no grupo qiliqiangxin e em 467 pacientes (30,03%) no grupo placebo (razão de risco [HR], 0,78; IC95% 0,68 a 0,90; p<0,001).

Esse efeito foi devido tanto a menor risco de hospitalização por piora da insuficiência cardíaca (HR 0,76; IC95%, 0,64 a 0,90; p=0,002), quanto morte cardiovascular (HR 0,83; IC95%, 0,68 a 0,996; p=0,045) no grupo qiliqiangxin. O efeito de qiliqiangxin no desfecho primário foi geralmente consistente entre os subgrupos predefinidos, incluindo idade, níveis prévios de NT-proBNP, e uso de sacubitril/valsartana.

A análise dos desfechos de segurança demonstrou nenhuma diferença significativa na mortalidade por todas as causas, que ocorreu em 221 pacientes (14,21%) no grupo qiliqiangxin e 262 pacientes (16,85%) no grupo placebo (HR 0,84; IC95% 0,70 a 1,01; p=0,058). As cápsulas de qiliqiangxin foram bem toleradas, sem grandes diferenças entre os dois grupos em eventos adversos, incluindo sintomas gastrointestinais, piora da função renal e aumento das enzimas hepáticas.

Até onde sabemos, este foi o primeiro ensaio randomizado, controlado e duplo-cego de uma medicação da medicina tradicional chinesa para o tratamento da insuficiência cardíaca crônica, e abre novos horizontes para maiores testes com essa medicação.

É preciso entender se o qiliqiangxin também teria os mesmos efeitos em populações não-asiáticas, mas é interessante pensar que uma medicação de formulação centenária e barata possa impactar ainda mais o prognóstico desses pacientes.