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Manejo da Síndrome Geniturinária da Menopausa (GSM) - Novo Guideline

Escrito por
Ícaro Sampaio
Publicado em
7/5/2025

A Síndrome Geniturinária da Menopausa (GSM) compreende um conjunto de sintomas decorrentes da redução dos níveis de estrogênio durante a transição menopausal e após a menopausa. Esses sintomas incluem secura vaginal, dor durante a relação sexual (dispareunia), irritação vulvar, urgência e frequência urinária aumentada, além de infecções urinárias recorrentes. O diagnóstico é clínico e não depende da mensuração dos níveis hormonais, sendo realizado com base na presença de sintomas geniturinários e na exclusão de outras causas.
O guideline elaborado pela American Urological Association (AUA), em parceria com a Society of Urodynamics, Female Pelvic Medicine & Urogenital Reconstruction (SUFU) e a American Urogynecologic Society (AUGS), e apoiado pela International Society for the Study of Women’s Sexual Health (ISSWSH) e The Menopause Society (TMS), enfatiza que a escolha da terapia hormonal deve ser centrada na paciente, utilizando o processo de tomada de decisão compartilhada.
1. Terapia Local com Estrogênio de Baixa Dose
Para pacientes com sintomas predominantemente geniturinários, a terapia local com estrogênio de baixa dose é a primeira linha de tratamento. O guideline recomenda o uso de estrogênio vaginal de baixa dose para alívio dos sintomas de secura vaginal, desconforto vulvovaginal e dispareunia.
Os estudos indicam que o estrogênio vaginal melhora a secura vaginal e a dispareunia, sem aumento significativo dos níveis séricos de estradiol. A segurança desse uso é corroborada por estudos que não demonstram aumento do risco de hiperplasia ou câncer endometrial quando utilizados em baixas doses.
2. Outras Terapias Hormonais: DHEA e SERMs
Além dos estrogênios locais, o guideline sugere o uso de DHEA vaginal (prasterona) como alternativa, especialmente em pacientes que preferem evitar o estrogênio ou apresentam contraindicações ao seu uso. A DHEA é convertida em estradiol e testosterona localmente, promovendo aumento da umidade vaginal e alívio da dispareunia.
Outra opção é o uso de ospemifeno, um modulador seletivo do receptor de estrogênio (SERM), indicado para pacientes que não podem utilizar estrogênio vaginal. Embora menos eficaz que o estrogênio local, apresenta benefício na melhora da secura vaginal e da dor durante a relação sexual.
3. Combinação de Terapia Sistêmica com Terapia Local
Pacientes que utilizam terapia sistêmica com estrogênio para manejo dos sintomas vasomotores, mas que permanecem com sintomas de GSM, podem se beneficiar da combinação com terapia local. A administração conjunta de estrogênio vaginal de baixa dose ou DHEA vaginal pode proporcionar alívio adicional dos sintomas geniturinários. No entanto, a adição de estrogênio local à terapia sistêmica não possui robustez de dados para garantir ausência de risco adicional.
4.Segurança da Terapia Hormonal
O guideline destaca que não há evidências robustas que correlacionem o uso de estrogênio vaginal de baixa dose com aumento do risco de câncer de mama ou endométrio. Mesmo em pacientes com histórico de câncer de mama, o uso local de estrogênio pode ser considerado após decisão compartilhada com a equipe multidisciplinar.
5.Reavaliação e Seguimento
Após o início do tratamento hormonal, o acompanhamento clínico deve incluir a avaliação da resposta sintomática e a monitorização dos possíveis efeitos adversos. A abordagem pode incluir também terapias não hormonais, como uso de hidratantes vaginais e fisioterapia do assoalho pélvico.
O manejo da GSM requer uma abordagem centrada na paciente, considerando preferências individuais, com ênfase na segurança e eficácia das intervenções hormonais locais. A integração de terapias hormonais locais com outras estratégias terapêuticas permite um tratamento mais abrangente e eficaz, promovendo melhora da qualidade de vida das pacientes.
Por fim, o guideline reforça a importância da decisão compartilhada entre médico e paciente, levando em conta as necessidades individuais e os melhores dados disponíveis para otimização dos cuidados com a saúde geniturinária na menopausa.
Referência:
Genitourinary Syndrome of Menopause: AUA/SUFU/AUGS Guideline (2025)