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A luz azul é componente do espectro eletromagnético vda luz visível, com uma faixa de comprimento de onda de 400–500 nm. Como tem o menor comprimento de onda e a maior energia no espectro de luz visível (LV), ela penetra em camadas mais profundas da pele e induz um maior nível de disfunção celular e danos ao DNA.
Até o momento, os papéis terapêuticos da baixa exposição à luz azul foram avaliados em condições dermatológicas como psoríase, eczema, acne vulgar, ceratose actínica e malignidades cutâneas. Mas também se sabe que a luz azul contribui para o desenvolvimento do fotoenvelhecimento, hiperpigmentação e melasma, consequências que antes era apenas atribuídas à RUV.
FOTOENVELHECIMENTO
Luz azul visível de alta energia (HEV) induz sinais de fotoenvelhecimento cutâneo in vitro, ex vivo e in vivo leva a um rápido aumento de espécies reativas de oxigênio (ROS), produção de citocinas pró-inflamatórias (interleucina-1 e -6) e MMP-2 e MMP-9, induzindo a degradação de colágeno.
HIPERPIGMENTAÇÃO E MELASMA
Luz azul causa pigmentação da pele (mais sustentada até do que UVA) com resultados visíveis de fotoenvelhecimento, como hiperpigmentação mosqueada ou manchas. Essa pigmentação é mediada pela opsina-3, uma proteína fotossensível epidérmica que pode “sentir” a radiação e produzir pigmentação.
A percepção que nós dermatologistas e pacientes temos de que indivíduos com pele mais escura respondem mais facilmente com hiperpigmentação devido à exposição à luz visível é real. Isto pode ser explicado pela formação de um complexo proteico formado por enzimas da melanogênese, como a tirosinase e a dopacromo tautomerase. Este complexo é maior em dimensão e é mais comum em melanócitos de pele escura.
LUZ AZUL E DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS
O sol continua sendo a principal fonte de luz azul. No entanto, também somos expostos a ela artificialmente por meio de artefatos eletrônicos, como iluminação com emissores de luz de diodos e telas de dispositivos (telas de televisão, laptop, telefones celulares).
Duteil et al. descobriram que o uso de uma tela de computador por 8 h por dia durante 5 dias a uma distância de 20 cm não piorou lesões de melasma pré-existentes. Agora, como os celulares são predominantemente usados a uma distância menor, uma avaliação mais aprofundada é necessária para documentar melhor o impacto cutâneo da luz azul nesse contexto. Contudo, a probabilidade de piora da pigmentação como resultado das telas digitais permanece pequena. Logo, as intervenções de proteção devem ainda priorizar a proteção solar, como principal fonte de luz azul.
Diante de tudo que se tem evidenciado, há uma demanda crescente por produtos que alegam ter propriedades protetoras contra a luz azul. Mas como orientar esse cuidado aos nossos pacientes?
- Óxido de zinco e dióxido de titânio foram considerados eficazes contra danos causados pela luz azul. Óxidos de ferro contribuem para a proteção contra a luz azul quando adicionados a filtros solares inorgânicos à base de filtro UV. Metileno bis-benzotriazolil tetrametilbutilfenol (também conhecido pelos nomes Tinosorb M e PARSOL Max) é um filtro UV de amplo espectro fotoestável que demonstrou fornecer proteção na faixa de luz azul. A presença de pigmento nos fotoprotetores otimiza essa cobertura. Na prática, temos que estimular o uso adequado de protetores com cor, especialmente para pacientes com fotótipos de pele escura — que requerem proteção adicional contra UVA e LV.
- Carotenoides como caroteno, luteína, xantinas e licopeno são antioxidantes fortes derivados de plantas. Eles impedem a oxidação da luz azul. Estudos evidenciaram propriedades de prevenção da oxidação da luz azul do β-caroteno e do licopeno. A ingestão alimentar de vegetais folhosos verde-escuros, laranja, vermelho e amarelo aumenta os níveis de β-caroteno no corpo.
- Um estudo recente concluiu que a niacinamida (nicotinamida, vitamina B3) aumentou a proteção dos filtros solares no espectro visível. A vitamina C e E são conhecidas por sua atividade antioxidante e podem fornecer proteção contra a radiação UVA. Tendo em mente que a luz azul fica adjacente à UVA, está sendo proposto que esses agentes podem ser eficazes contra a luz azul também.

Outra variedade de produtos está disponível alegando benefícios de proteção contra a luz azul, embora faltem métodos formais padronizados para testar a eficácia desses ingredientes.
Fontes:
Das A, Sil A, Kumar P, Khan I. Blue light and skin: what is the intriguing link? Clin Exp Dermatol. 2023 Aug 25;48(9):968-977. doi: 10.1093/ced/llad150. PMID: 37097168.
Duteil L, Queille-Roussel C, Lacour JP et al. Short-term exposure to blue light emitted by electronic devices does not worsen melasma. J Am Acad Dermatol 2020; 83:913–14