Lipoproteína (a): o que é e como utilizar na prática

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A lipoproteína(a) [Lp(a)] é uma partícula plasmática que contém colesterol, triglicerídeos, fosfolipídios e apolipoproteína B, similar às lipoproteínas de baixa densidade (LDL). O que diferencia a Lp(a) das outras lipoproteínas é a presença de uma proteína adicional chamada apolipoproteína(a), que está ligada à apolipoproteína B por uma ponte dissulfeto. Essa apolipoproteína(a) tem características estruturais únicas, como a presença de múltiplas repetições de uma unidade estrutural chamada "kringle IV", o que afeta diretamente seus níveis plasmáticos e a torna mais pró-aterogênica e pró-trombótica. A apolipoproteína(a) tem homologia com o plasminogênio, o que sugere um papel potencial na coagulação sanguínea e na formação de trombos. Recente artigo de revisão publicado no periódico The Lancet discutiu diversos aspectos relacionados à lipoproteína (a), incluindo a sua utilidade como marcador de risco cardiovascular.

A lipoproteína(a) é considerada um fator de risco para várias doenças cardiovasculares. A Lp(a) pode se acumular em locais de lesão arterial e participar da formação de placas ateroscleróticas e trombos, promovendo a progressão da doença cardiovascular. Níveis elevados de Lp(a) aumentam significativamente o risco de aterosclerose, que pode levar a infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral isquêmico e estenose valvar aórtica.

O risco cardiovascular associado a uma concentração mais alta de lipoproteína(a) é gradual e não existe um limite formal. No entanto, para fins práticos, alguns limites podem ser mencionados. Pessoas com concentrações plasmáticas de lipoproteína(a) acima de 30 mg/dL apresentam maior risco de doença cardiovascular em comparação com indivíduos com concentrações mais baixas, embora o aumento do risco entre 30 mg/dL e 50 mg/dL possa ser modesto. A primeira declaração de consenso da Sociedade Europeia de Aterosclerose sobre lipoproteína(a) concordou em identificar concentrações de lipoproteína(a) acima de 50 mg/dL como sendo clinicamente importantes.

Os autores do recente artigo, discutem que a medição da Lp(a) deve ser feita ao menos uma vez na vida, especialmente em indivíduos de maior risco cardiovascular. A Lp(a) é em grande parte geneticamente determinada, com variações mínimas ao longo da vida, exceto em condições inflamatórias agudas. Para interpretação, níveis acima de 30 mg/dL são considerados de risco, com níveis superiores a 50 mg/dL indicando risco cardiovascular significativamente elevado. Valores acima de 90 mg/dL sugerem risco ainda mais alto, podendo ser equivalente ao observado em indivíduos com hipercolesterolemia familiar, quando acima de 130 mg/dL.

Atualmente, não há medicamentos aprovados especificamente para reduzir a lipoproteína(a). No entanto, várias terapias estão em desenvolvimento. Algumas abordagens envolvem o uso de tecnologias de silenciamento de genes, como pelacarsen, olpasiran e lepodisiran, que podem reduzir os níveis de Lp(a) em até 98%. Além disso, inibidores de PCSK9, amplamente utilizados para reduzir o LDL, também têm um efeito moderado na Lp(a), reduzindo seus níveis em aproximadamente 25%. A aférese, uma técnica invasiva que remove diretamente lipídios do sangue, pode reduzir a Lp(a) em até 35%, sendo utilizada em casos de pacientes com níveis muito altos e risco cardiovascular elevado. Outra terapia tradicional, a niacina, também pode reduzir a Lp(a) em cerca de 25%, mas seu uso é limitado devido aos efeitos colaterais e à falta de benefícios comprovados em eventos cardiovasculares.

                           

Refeência: Nordestgaard, Børge G et al. Lipoprotein(a) and cardiovascular disease  The Lancet, Volume 404, Issue 10459, 1255 - 1264