Lepodisirana: Uma Nova Esperança na Redução da Lipoproteína(a)

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A lipoproteína(a) (Lp(a)) é uma partícula lipídica similar ao LDL que apresenta associação importante com risco aumentado de doenças cardiovasculares ateroscleróticas. Níveis elevados de Lp(a) estão associados a eventos graves, como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e estenose aórtica. Seus níveis são principalmente determinados pela genética, não se correlacionando com hábitos de vida ou composição corporal. Ao contrário de outros fatores de risco, até recentemente, não havia terapias farmacológicas aprovadas especificamente para reduzir os níveis de Lp(a), mas o desenvolvimento de medicamentos baseados em RNA interferente (siRNA) está trazendo novas perspectivas. Entre eles, destaca-se a lepodisirana, um siRNA de longa duração que tem mostrado resultados promissores.

Estudo clínico

Um estudo de fase 2, publicado no New England Journal of Medicine, avaliou a segurança e a eficácia da lepodisirana em 320 participantes com idade igual ou superior a 40 anos e níveis elevados de Lp(a) (mediana de 253,9 nmol/L). Os participantes foram randomizados em cinco grupos, recebendo injeções subcutâneas de:

- Lepodisirana nas doses de 16 mg, 96 mg ou 400 mg no baseline e no dia 180;

- Lepodisirana 400 mg no baseline e placebo no dia 180;

- Placebo no baseline e no dia 180.

Resultados do Estudo

Entre os dias 60 e 180, a variação percentual média ajustada para placebo na concentração sérica de Lp(a) foi:

-40,8% no grupo de 16 mg (IC 95%: -55,8 a -20,6);

-75,2% no grupo de 96 mg (IC 95%: -80,4 a -68,5);

-93,9%nos grupos que receberam 400 mg  (IC 95%: -95,1 a -92,5).

Os efeitos adversos mais comuns foram reações no local da injeção, que se mostraram dependentes da dose e, em sua maioria, leves. No grupo que recebeu a dose mais alta (400 mg/400 mg), 12% dos participantes relataram essas reações, geralmente transitórias, como dor ou eritema. Foram registrados 45 eventos adversos graves em 35 participantes, mas nenhum foi considerado relacionado ao tratamento, indicando um perfil de segurança favorável.

Implicações Clínicas

Os resultados do estudo de fase 2 confirmam que a lepodisirana reduz os níveis de Lp(a) de maneira significativa e dose-dependente, com uma duração de ação prolongada. Em um estudo anterior de fase 1, uma dose única de 608 mg reduziu a Lp(a) em mais de 90% por até 337 dias, o que sugere seu potencial para administração pouco frequente. No entanto, ainda não há dados de desfechos clínicos que demonstrem se essa redução se traduz em menor incidência de eventos cardiovasculares, como infarto ou AVC. Um estudo de fase 3 (NCT06292013) está em andamento para responder a essa questão.

Para profissionais que frequentemente acompanham pacientes com dislipidemias e risco cardiovascular elevado, a lepodisirana pode representar uma ferramenta inovadora. A capacidade de reduzir drasticamente a Lp(a) — um fator de risco genético e pouco influenciado por terapias tradicionais, como estatinas — abre novas possibilidades no manejo de pacientes com aterosclerose.

Perspectivas Futuras

O desenvolvimento de terapias como a lepodisirana reflete o avanço da medicina de precisão no campo da endocrinologia e cardiologia. Além da lepodisirana, outros agentes, como pelacarsen e olpasiran, também estão em fase de testes clínicos, ampliando as opções para enfrentar o ônus global da Lp(a) elevada, que afeta cerca de 20-25% da população mundial. Enquanto aguardamos os resultados dos estudos de desfechos cardiovasculares, a lepodisirana se posiciona como uma candidata promissora, com potencial para transformar a prevenção de doenças cardiovasculares em pacientes de alto risco.