Já ouviu falar em cardiomiopatia causada por metanfetaminas?

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Já ouviu falar em cardiomiopatia causada por metanfetaminas?

O uso de metanfetamina (meth) triplicou nos últimos anos principalmente na região oeste dos EUA. Os efeitos do uso da droga podem ocorrer em curto prazo, com uma overdose aguda, ou em longo prazo com patologias cardíacas que incluem: hipertensão maligna, taquiarritmias, isquemia miocárdica, e cardiomiopatia/insuficiência cardíaca (IC). O resultado disso é um aumento de hospitalizações por IC nessa região dos EUA.

Um estudo publicado recentemente avaliou a o impacto da IC relacionada à metanfetamina (ICMeth) na Califórnia. O estudo foi retrospectivo e analisou dados de pacientes hospitalizados através do sistema State of California Health and Human Services Agency’s Office of Statewide Health Planning and Development e dos resumos de alta entre 2008 e 2018 com diagnóstico de IC relacionado a matanfetamina através do CID 10 de IC e de dependência de anfetaminas ou outros psicoestimulantes. O objetivo do estudo foi avaliar desfechos de pacientes com IC relacionados à metanfetamina comparado com IC de outras etiologias. Os desfechos foram: taxa de hospitalizações por IC ajustada para idade, taxa de hospitalizações por IC baseadas nos subgrupos de sexo e raça, encargos de hospitalizações ajustados pela inflação, padrões temporais e geoespaciais de distribuição de hospitalizações por ICMeth.

O estudo encontrou, através da análise dos dados, 4.808.506 hospitalizações por IC. Desses, 1.033.076 foram listados IC como diagnóstico principal e desses, 42.565 (4,12%) estavam relacionadas à metanfetamina e 990.511 (95.88%) não relacionadas à metanfetamina. As hospitalizações IC por esse tipo de droga ajustadas para idade aumentaram de 1,2% para 8% do total de hospitalizações por IC de 2008 a 2018. Um aumento relativo de 567%.

Observando todas as hospitalizações por IC, houve um declínio inicial de 2008 a 2014 (-11,6 por 100000 habitantes) e depois aumento de 2014 a 2018 (+ 17,2). As hospitalizações por IC não-meth seguiram os mesmos padrões, declinando de 2008 a 2014 e depois aumentando até 2018 (-12,4 e após + 13,2). Já as hospitalizações por ICMeth aumentaram em todo período (13,7 em 2014 para 28,1 em 2018). Além disso, 22% do aumento das hospitalizações por IC foram atribuídas a metanfetamina. Os pacientes com internações por ICMeth foram mais jovens (idade média de 49 anos), predominantemente masculinos, com menos comorbidades em relação aos não-meth e com maiores taxas de abusos de substâncias como cocaína e maconha, além de maior incidência de moradores de rua e sem plano de saúde privados. A mortalidade intra-hospitalar do grupo ICMeth foi menor em relação aos não-meth, provavelmente pelas características do grupo (jovem e sem comorbidades).

O impacto no custo também é relevante, visto que a maioria dos pacientes são jovens, eles estão em uma idade produtiva e param de contribuir para sociedade além dos custos diretos com a internação. Muitos desses pacientes não sabem dos riscos das comorbidades crônicas associadas a metanfetamina e estudos como esse podem alertar tanto médicos quanto pacientes sobre a gravidade dessa condição e da necessidade de informação da população para prevenção de uma doença grave com impacto tanto médico quando socioeconômico para economia americana. Não existe casuística brasileira para IC associada a metanfetamina.

Referência

Zhao SX, Deluna A, Kelsey K, Wang C, Swaminathan A, Staniec A, Crawford MH. Socioeconomic Burden of Rising Methamphetamine-Associated Heart Failure Hospitalizations in California From 2008 to 2018. Circ Cardiovasc Qual Outcomes. 2021 Jul;14(7):e007638. doi: 10.1161/CIRCOUTCOMES.120.007638. Epub 2021 Jul 13. PMID: 34256572.

Reddy P, Elkayam U. The Hidden Cost of Meth: Appraising the Socioeconomic Burden of Methamphetamine-Associated Cardiomyopathy. Circ Cardiovasc Qual Outcomes. 2021 Jul;14(7):e008214. doi: 10.1161/CIRCOUTCOMES.121.008214. Epub 2021 Jul 13. PMID: 34256571.