ISGLT2 aumenta o risco de amputação?

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O diabetes tipo 2 (DM2) confere um risco aumentado para condições crônicas, incluindo doença renal, insuficiência cardíaca, perda visual, neuropatia, doença cardiovascular (DCV), doença arterial periférica (DAP) e amputação. Os inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2 (iSGLT-2) já demonstraram benefícios na redução de desfechos cardiovasculares, renais e de insuficiência cardíaca, sendo apontados como terapia de primeira linha para controle glicêmico e redução de complicações.

No estudo CANVAS e CANVAS-Renal (CANVAS-R), os pesquisadores relataram um risco aumentado de amputação entre usuários da canagliflozina em comparação com placebo (6,3 vs. 3,4 eventos por 1.000 pessoas-ano). Como resultado, o FDA americano emitiu um warning box sobre o risco de amputação em 2017. Nesse cenário, temos um novo estudo, publicado recentemente na revista Diabetes Care. Os autores agruparam dados retrospectivos de mais de 150.000 pacientes do grupo de veteranos americanos com diabetes que foram tratados com metformina, insulina, sulfonilureia ou combinações deles. Cerca de 76.000 pacientes que receberam tratamento adicional com iSGLT-2 (geralmente empagliflozina) foram comparados com 76.000 pacientes pareados por escore de propensão que receberam iDPP-4. A idade média foi de 69 anos com duração média do diabetes de 10 anos.

O desfecho primário composto (amputação ou revascularização arterial) foi mais frequente no grupo com iSGLT-2 (11,2 vs. 10,0 eventos por 1000 pessoas-ano). Na análise ajustada, o uso de inibidores de SGLT-2 foi associado a riscos significativamente maiores: as taxas de risco ajustadas foram de 1,18, 1,25 e 1,15 para o desfecho composto, revascularização e amputação, respectivamente.

Esses resultados reforçam pesquisas anteriores que sugerem uma ligação entre iSGLT-2 e eventos adversos de DAP. No entanto, o risco absoluto de eventos adversos foi baixo. Apesar disso, cabe reforçar que a mortalidade acumulada em 4 anos foi menor com o uso do iSGLT-2 do que com o uso do inibidor de DPP-4, reforçando os benefícios cardiovasculares e renais. O mecanismo subjacente para uma ligação entre os inibidores de SGLT-2 e a DAP permanece desconhecido, embora alguns estudos apontem para uma possível instabilidade hemodinâmica relacionada ao efeito diurético em vasos previamente acometidos. Evitar o uso de iSGLT-2 parece prudente para pacientes com DAP grave ou progressivamente sintomática, porém os benefícios provavelmente superam os riscos naqueles com doença estável. Quando optado pelo uso nesses casos, atentar para eventuais sinais de agravamento.