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Interpretando o Teste Rápido Para HIV – Parte #2

Escrito por
Cadu Carlomagno
Publicado em
19/3/2025

Na prática, neonatal, a triagem para infecção pelo HIV é uma etapa crucial no atendimento a gestantes e recém-nascidos. O teste rápido para HIV, amplamente utilizado nas maternidades, permite a identificação precoce da infecção materna e a implementação de estratégias de prevenção da transmissão vertical (PTV). A interpretação correta dos resultados e as condutas adequadas são fundamentais para garantir a saúde da mãe e do bebê.
Interpretação do Teste Rápido para HIV
O teste rápido para HIV é um ensaio imunocromatográfico que detecta anticorpos contra o vírus da imunodeficiência humana (HIV-1 e HIV-2). Ele oferece resultados em cerca de 20 minutos e, apesar de ser altamente sensível e específico, ainda exige uma abordagem cautelosa, especialmente quando o resultado é positivo.
Resultado Positivo do Teste Rápido para HIV
Um resultado positivo no teste rápido para HIV indica a presença de anticorpos contra o vírus, sugerindo que a mãe está infectada pelo HIV. No entanto, deve-se ter em mente que o teste rápido é um teste de triagem, e o resultado precisa ser confirmado por exames adicionais.
- Confirmar o Diagnóstico:
- Após um resultado positivo, é fundamental realizar um teste confirmatório, como o teste de Western Blot ou um teste de carga viral (quantificação do RNA viral). Em alguns casos, a realização de um segundo teste rápido de outra marca pode ser utilizada como etapa intermediária antes dos exames confirmatórios definitivos.
- Avaliação do Histórico Materno:
- Se a gestante já for sabidamente portadora de HIV e estiver sob tratamento antirretroviral (TARV), é importante verificar se o tratamento tem sido adequado, assim como a carga viral materna nas últimas semanas de gestação. A carga viral indetectável (< 50 cópias/ml) reduz significativamente o risco de transmissão vertical.
- Se o diagnóstico é novo, a mãe deve ser orientada e encaminhada para iniciar TARV o mais rapidamente possível, com o objetivo de reduzir a carga viral e minimizar o risco de transmissão para o bebê.
Resultado Negativo do Teste Rápido para HIV
Um resultado negativo no teste rápido para HIV indica que a mãe não apresenta anticorpos detectáveis contra o HIV, sugerindo ausência de infecção ativa. No entanto, há alguns pontos importantes a serem considerados:
- Janela Imunológica:
- O teste rápido para HIV pode não detectar a infecção se a mãe tiver sido exposta ao vírus recentemente, durante o período de “janela imunológica”, que corresponde ao intervalo entre a infecção e a detecção de anticorpos. Esse período pode variar de 2 a 12 semanas. Se houver suspeita de infecção recente, como em casos de comportamento de risco ou contacto com parceiro infectado, recomenda-se a repetição do teste em 4 a 6 semanas.
- Confiança no Resultado:
- Em gestantes que realizaram o pré-natal adequadamente e não apresentam fatores de risco para infecção pelo HIV, um resultado negativo pode ser considerado definitivo. No entanto, o acompanhamento com sorologias repetidas pode ser necessário em situações de maior vulnerabilidade ou risco epidemiológico.
- Condutas em Caso de Teste Negativo:
- Mãe: Se a mãe teve acompanhamento adequado durante a gestação e o resultado for negativo, não há necessidade de medidas adicionais. A paciente deve ser tranquilizada e encorajada a manter práticas preventivas contra a infecção por HIV.
- Recém-nascido: Se a mãe tiver um teste negativo confiável, o recém-nascido não requer profilaxia antirretroviral. No entanto, em situações onde há suspeita de exposição recente da mãe ao HIV, pode ser indicada profilaxia para o bebê até que o estado materno seja definitivamente esclarecido.
- Exposição de Alto Risco:
- Em casos de alto risco, como mães com parceiros HIV-positivos ou histórico de práticas de risco durante a gestação, a avaliação deve ser mais rigorosa, com seguimento adicional após o parto.
Considerações Finais
A correta interpretação do teste rápido para HIV na maternidade é vital para a prevenção da transmissão vertical do HIV. A rapidez na implementação de medidas profiláticas e terapêuticas pode fazer a diferença entre a transmissão ou não do vírus ao bebê.
A transmissão vertical do HIV, embora evitável, continua a ser uma preocupação nas maternidades, e o sucesso do manejo depende de uma identificação precoce, implementação correta da TARV e a educação contínua das mães sobre a importância do seguimento. Para nós, neonatologistas e pediatras, o conhecimento atualizado sobre as condutas e o raciocínio clínico nesses casos é fundamental para garantir os melhores desfechos possíveis.