Interpretando o Teste Rápido Para HIV – Parte #1

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Na prática neonatal, a triagem para infecção pelo HIV é uma etapa crucial no atendimento a gestantes e recém-nascidos. O teste rápido para HIV, amplamente utilizado nas maternidades, permite a identificação precoce da infecção materna e a implementação de estratégias de prevenção da transmissão vertical (PTV). A interpretação correta dos resultados e as condutas adequadas são fundamentais para garantir a saúde da mãe e do bebê.

Interpretação do Teste Rápido para HIV

O teste rápido para HIV é um ensaio imunocromatográfico que detecta anticorpos contra o vírus da imunodeficiência humana (HIV-1 e HIV-2). Ele oferece resultados em cerca de 20 minutos e, apesar de ser altamente sensível e específico, ainda exige uma abordagem cautelosa, especialmente quando o resultado é positivo.

Resultado Positivo do Teste Rápido para HIV

Um resultado positivo no teste rápido para HIV indica a presença de anticorpos contra o vírus, sugerindo que a mãe está infectada pelo HIV. No entanto, deve-se ter em mente que o teste rápido é um teste de triagem, e o resultado precisa ser confirmado por exames adicionais.

Confirmação do Diagnóstico

Após um resultado positivo, é fundamental realizar um teste confirmatório, como o teste de Western blot ou um teste de carga viral (quantificação do RNA viral). Em alguns casos, a realização de um segundo teste rápido de outra marca pode ser utilizada como etapa intermediária antes dos exames confirmatórios definitivos.

Avaliação do Histórico Materno

Se a gestante já for sabidamente portadora de HIV e estiver sob tratamento antirretroviral (TARV), é importante verificar se o tratamento tem sido adequado, assim como a carga viral materna nas últimas semanas de gestação. A carga viral indetectável (< 50 cópias/ml) reduz significativamente o risco de transmissão vertical.

Se o diagnóstico é novo, a mãe deve ser orientada e encaminhada para iniciar TARV o mais rapidamente possível, com o objetivo de reduzir a carga viral e minimizar o risco de transmissão para o bebê.

Condutas em Caso de Teste Positivo

Mãe

Independentemente do estágio da gestação ou do momento do parto, o uso de terapia antirretroviral (TARV) é imprescindível. Além disso, é importante evitar procedimentos invasivos durante o parto (ex.: amniotomia precoce, fórceps) que possam aumentar o risco de transmissão.

Recém-nascido

O bebê deve iniciar profilaxia antirretroviral nas primeiras 4 a 6 horas de vida, preferencialmente com zidovudina (AZT). Em alguns casos de risco aumentado (ex.: mãe sem TARV ou com carga viral alta), pode ser necessária a associação de outros antirretrovirais, como nevirapina ou lamivudina.

Exames do Bebê

A investigação inicial no recém-nascido inclui a coleta de sangue para carga viral de HIV (detecção de RNA viral) entre 14 a 21 dias, 1 a 2 meses, e novamente aos 4 a 6 meses de vida, já que a presença de anticorpos maternos pode interferir nos resultados até o desaparecimento natural desses anticorpos.

Aleitamento Materno

Deve ser evitado, uma vez que o leite materno é uma via de transmissão do HIV. As mães devem ser orientadas sobre o uso de fórmulas infantis ou leite artificial.

Considerações Finais

A correta interpretação do teste rápido para HIV na maternidade é vital para a prevenção da transmissão vertical do HIV. A rapidez na implementação de medidas profiláticas e terapêuticas pode fazer a diferença entre a transmissão ou não do vírus ao bebê.

A transmissão vertical do HIV, embora evitável, continua a ser uma preocupação nas maternidades, e o sucesso do manejo depende de uma identificação precoce, implementação correta da TARV e educação contínua das mães sobre a importância do seguimento. Para nós, neonatologistas e pediatras, o conhecimento atualizado sobre as condutas e o raciocínio clínico nesses casos é fundamental para garantir os melhores desfechos possíveis.