Insuficiência cardíaca = restrição de sal e de água, certo? Na verdade...

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Insuficiência cardíaca = restrição de sal e de água, certo? Na verdade...

Esse é um conceito quase que universal entre as pessoas que tratam pacientes com insuficiência cardíaca.- Seu José, o senhor não pode exagerar na água e no sal. O ideal é comer comida com pouco ou quase nenhum sal...Mas será que é isso mesmo? Há evidência científica suficiente para recomendar restrição hídrica e/ou salina em pacientes com IC? Já falamos previamente sobre a questão da restrição de sal neste post de 2 anos atrás. Apenas lembrando alguns pontos dele:

  • não existe fundamento científico que justifique a restrição de sódio na IC. Pelo contrário, a evidencia disponível tem associado essa estratégia com maior risco de hospitalização por descompensação da IC.
  • Um estudo retrospectivo, publicado no JACC Heart Failure, demonstrou que uma dieta com menos de 2,5g de sódio (~ 6g de sal) está associada a maior risco de morte e hospitalização em doentes com IC, sobretudo nos pacientes sem iECA/BRA.
  • Os mecanismos para explicar essa ativação neuro-hormonal incluem a redução do estimulo de mecanorreceptores ventriculares, seio carotídeo, arco aórtico e arteríolas renais aferentes, levando ao aumento da descarga simpática e neuro-hormonal.
  • Em resumo, ainda não está claro qual o valor ideal de sódio na dieta de pacientes com IC e estudos adicionais são necessários para esclarecer os efeitos dessa estratégia comumente recomendada.

O que diz a nova diretriz de IC da SBC? Basicamente isto."parece prudente recomendar que se evite ingesta excessiva de sódio (em níveis > 7 g de sal cloreto de sódio por dia) para todos pacientes com IC crônica"Ou seja, evitar excesso. Sem recomendações em relação à restrição de sal.E em relação à restrição hídrica? As recomendações seguem no mesmo sentido:" com base nas evidências disponíveis, não é possível estabelecermos recomendações específicas e detalhadas sobre o emprego de restrição hídrica em pacientes com IC crônica"Mais um conhecimento que aprendemos na época da residência e que parecia bastante sólido e que quando vamos atrás das evidências... a história não é bem assim.Referência: Comitê Coordenador da Diretriz de Insuficiência Cardíaca. Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arq Bras Cardiol. 2018; 111(3):436-539