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Insuficiência cardíaca: tanto faz usar ieca ou bra?
Escrito por
Jefferson Vieira
Publicado em
13/2/2017
Vários estudos randomizados demonstraram benefícios semelhantes de iECA e BRA sobre desfechos hemodinâmicos, neuro-hormonais e clínicos através do bloqueio do SRAA na IC com fração de ejeção reduzida. A recomendação de iECA é baseada em ampla evidência de redução de mortalidade, infarto, AVC e reinternações. Os BRA, por outro lado, proporcionam um bloqueio melhor do SRAA com uma posologia mais acessível e menos efeitos colaterais. Por essas razões, muitos médicos preferem prescrever direto um BRA sem nunca ter prescrito iECA para seu paciente com IC. Essa abordagem não é necessariamente errada, mas apesar das vantagens teóricas dos BRA, seu impacto sobre mortalidade na IC parece ser menos evidente que dos iECA. Em 2012, uma meta-análise com mais de 17 mil pacientes com IC com fração de ejeção reduzida recebendo algum BRA não apontou diferença de mortalidade entre BRA e placebo. A expectativa de superioridade do Losartan, sugerida pelo estudo ELITE, não se confirmou na conclusão do estudo mais adequado que foi o ELITE II. Neste último, os resultados comparativos do Losartan com o Captopril foram semelhantes para mortalidade e morbidade em geral, apesar de o Losartan ter sido melhor tolerado. Os estudos Val-HeFT e CHARM-alternative demonstraram benefício de Valsartan e Candesartan, respectivamente, sobre os desfechos compostos por morte cardiovascular e hospitalização. No entanto, no Val-HeFT, esse beneficio ocorreu predominantemente por causa da redução no numero de hospitalizações já que o desfecho de mortalidade por todas as causas foi semelhante ao grupo placebo.
Assim, os iECA permanecem sendo os agentes de primeira escolha para promover a inibição do SRAA na IC com fração de ejeção reduzida, enquanto os BRA são indicados como alternativa aos pacientes que não toleram os IECA.
Uma última nota sobre os BRA: assim como com os betabloqueadores e os iECA, o benefício clínico dos BRA parece ser dose-dependente. O estudo HEAAL comparou doses diferentes de Losartan (50 mg vs. 150 mg) e demonstrou redução de hospitalizações por IC com as doses mais altas.
Referências:
Dezsi CA. Differences in the clinical effects of angiotensin-converting enzyme inhibitors and angiotensin receptor blockers: a critical review of the evidence. Am J Cardiovasc Drugs. 2014;14:167–173.