Quais os efeitos dos inibidores de SGLT2 na IC Descompensada?

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Os inibidores do cotransportador de sódio e glicose (SGLT2) já possuem um papel bem estabelecido na redução de eventos cardiovasculares em pacientes crônicos ambulatoriais com insuficiência cardíaca (IC) com fração de ejeção reduzida (ICFEr) e, mais recentemente, também na IC com fração de ejeção preservada (ICFEP) . Porém, o efeito dos inibidores de SGLT2  em pacientes com IC descompensada ainda é incerto e está sendo foco de diversos ensaios clínicos. (Quer saber mais sobre efeitos dos inibidores de SGLT2? Cheque este nosso post: https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/afinal-os-inibidores-de-sglt2-sao-apenas-diureticos-de-luxo/)

O estudo EMPAG-HF avaliou o início precoce da empagliflozina em adição a diuréticos de alça em pacientes com IC aguda descompensada. Os pacientes possuíam BNP > 100 pg/mL ou NT-proBNP > 300 pg/mL e foram randomizados para receber empagliflozina vs placebo nas primeiras 12 horas da descompensação da IC. O desfecho primário foi a diurese total medida em 5 dias. O desfecho secundário foi marcadores de função renal através da taxa de filtração glomerular, creatinina e cistatina C. O seguimento foi do dia 1 – 5 de internação, alta hospitalar e 30 dias após alta.

Foram incluídos 60 pacientes, 30 em cada grupo, com uma média de idade de 74,7 anos, 38% sexo feminino. Dos pacientes, 53% apresentaram IC de novo e a principal etiologia foi isquêmica (68%). A média da taxa de filtração glomerular no baseline foi de 60,2 mL/min/1.73m2 e 21% dos pacientes possuíam FEVE < 30%. Um total de 63% dos pacientes do grupo empagliflozina e 59% do grupo placebo havia realizado tratamento prévio com diurético de alça.

Pacientes do grupo empagliflozina apresentaram um aumento na diurese de 25% em 5 dias em relação ao grupo placebo, com volume total de diurese maior. A redução de peso também foi maior  no grupo empagliflozina (- 4,2 vs 3,0 Kg), que persistiu até a alta hospitalar, sem diferença após 30 dias. A dose diária de diuréticos de alça foi maior no grupo placebo. Esses resultados foram independentes dos casos de IC crônica ou IC de novo.

Não houve diferença em relação à taxa de filtração glomerular entre os grupos durante a internação. Após 30 dias da alta, o grupo placebo possuía uma taxa de filtração glomerular menor em relação ao empagliflozina, sem diferença nos marcadores de função renal. Houve melhora significante da classe funcional pela NYHA no grupo empagliflozina, assim como melhora dos questionários de qualidade de via. A droga foi segura, bem tolerada, sem eventos adversos significantes entre os grupos ou necessidade de descontinuação precoce.

Estudos prévios e recentes já vêm demonstrando um beneficio dos efeitos dos inibidores de SGLT2 em pacientes com IC descompensada durante a internação e após estabilização clínica ou antes da alta hospitalar. O EMPAG-HF é um dos pioneiros em avaliar a introdução da medicação no início da internação e da descompensação. Um estudo piloto recente, o EMPA-RESPONSE, falhou em demonstrar diferenças em desfechos de sintomas de dispneia, resposta a diuréticos ou mudanças nos peptídeos natriuréticos em pacientes com IC descompensada e início precoce de empagliflozina vs placebo, embora o uso da empagliflozina tenha se associado a  aumento do volume urinário e redução do desfecho composto de re-internação por IC ou óbito. O estudo EMPAG-HF tem uma grande limitação que é o seguimento de 5 dias, uma seguimento muito curto que pode não ser suficiente para avaliar os efeitos adversos da medicação. Apesar disso, esse é mais um estudo que avalia os efeitos dos inibidores de SGLT2 em um cenários de IC descompensada com desfechos favoráveis ao uso da medicação com objetivo de diminuir a congestão, sem prejuízo para função renal.

Referências

Schulze PC, Bogoviku J, Westphal J, Aftanski P, Haertel F, Grund S, von Haehling S, Schumacher U, Möbius-Winkler S, Busch M. Effects of Early Empagliflozin Initiation on Diuresis and Kidney Function in Patients With Acute Decompensated Heart Failure (EMPAG-HF). Circulation. 2022 Jul 26;146(4):289-298. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.122.059038. https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/CIRCULATIONAHA.122.059038?rfr_dat=cr_pub++0pubmed&url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori%3Arid%3Acrossref.org