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Inibidores do SGLT-2 em pacientes hospitalizados: novos dados.
Escrito por
Luciano Albuquerque
Publicado em
13/1/2025
Os inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2 (iSGLT-2) tornaram-se importantes no tratamento de pacientes com diabetes, doença renal crônica e insuficiência cardíaca, condições sabidamente associadas a maior risco de hospitalização. Entretanto, os dados sobre seus riscos e benefícios em pacientes hospitalizados ainda são limitados, sendo o uso ainda evitado na maioria dos casos. A principal preocupação é um maior risco de cetoacidose, que pode se desenvolver após infecção aguda ou redução da ingestão oral – situações comumente observadas em pacientes hospitalizados. Além disso, o uso dos iSGLT2 é associado à cetoacidose euglicêmica, frequentemente menos reconhecida e de tratamento menos familiar do que sua contraparte hiperglicêmica.
Sobre o tema, uma publicação recente na revista Diabetes Care traz relevantes informações. Trata-se de uma meta-análise de 23 ensaios randomizados e controlados que envolveram 20.000 pacientes hospitalizados (30% com diabetes) para comparar os resultados entre aqueles que receberam iSGLT-2 e aqueles que não receberam. As taxas de cetoacidose foram numericamente, mas não significativamente, mais elevadas naqueles que receberam iSGLT-2 (0,21 vs. 0,14 por 100 pessoas-ano). Por outro lado, a medicação foi associado a um número significativamente menor de readmissões e menor mortalidade em ensaios de insuficiência cardíaca e a uma menor incidência geral de lesão renal aguda. Vinte estudos observacionais também foram analisados e não demonstraram maior risco de cetoacidose com inibidores do SGLT-2.
Alguns estudos randomizados importantes também apontam tal segurança. Em pacientes internados com COVID19, os estudos RECOVERY (empagliflozina) e DARE (dapagliflozina) demonstraram segurança, porém sem redução de desfechos clínicos. Já nos estudos EMPULSE (empagliflozina), SOLOIST (sotagliflozina), DELIVER e DICTATE (dapagliflozina), diferentes agentes da classe foram testados com segurança em pacientes internados por descompensação de insuficiência cardíaca. Em todos esses estudos o iSGLT2 foi bem tolerado, com baixa incidência de eventos adversos e baixo risco de cetoacidose.
Os autores da meta-análise sugerem cautela na interpretação da diferença não significativa na cetoacidose com iSGLT-2, pois os resultados podem ter subestimado o risco de cetoacidose porque alguns estudos incluíram o período de acompanhamento ambulatorial, quando o risco provavelmente seria mais baixo. No entanto, esta meta-análise reforça a segurança e apoia as recomendações atuais para continuar ou iniciar iSGLT-2 em pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca, caso não exista contraindicação. A extensão dessa recomendação para outros cenários ainda aguarda definição.
Referência:
Gao FM et al. A systematic review and meta-analysis on the safety and efficacy of sodium–glucose cotransporter 2 inhibitor use in hospitalized patients. Diabetes Care 2024 Dec 1; 47:2275.