A prevalência de incidentaloma adrenal é superestimada?

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Quando encontramos, em um exame de imagem abdominal solicitado para avaliação de alguma doença não adrenal, uma massa de 1cm ou mais em pelo menos uma das adrenais, temos o que chamamos de incidentaloma adrenal. Alguns estudos têm sugerido que a prevalência desta condição varia de 4 a 7% na população geral.

No entanto, a maioria destes estudos foram retrospectivos, baseando-se no registro do diagnóstico em prontuários, o que pode tanto subestimar quanto superestimar a prevalência do incidentaloma adrenal.

Na tentativa de estabelecer de maneira mais confiável a prevalência desta condição, um estudo chinês realizou uma avaliação transversal, incluindo mais de 25 mil indivíduos que foram convidados para realizar screening para massas adrenais através de tomografia computadorizada (TC). As imagens eram avaliadas por dois radiologistas independentes, com posterior discussão entre eles nos casos com achados discordantes.

Ao final do estudo, os seguintes resultados foram encontrados:

  • Tumores adrenais estiveram presentes em 1,4% da população estudada.
  • Esta prevalência aumentou com a idade, como já era demonstrado pelos estudos retrospectivos e de necrópsia.
  • Enquanto a massa adrenal estava presente em apenas 0,2% dos indivíduos entre 18 e 25 anos de idade, esta frequência aumentava para 3,2% naqueles com mais de 65 anos.
  • A prevalência também foi maior nos homens (1,6%) do que nas mulheres (1,2%).

Naqueles em que uma massa adrenal foi encontrada, seguiu-se a realização da avaliação funcional do adenoma. Tumores não-funcionantes foram mais prevalentes (69,3% dos casos), mas 30,7% apresentavam secreção autônoma de algum hormônio esteroide, uma frequência não desprezível e que reforça a necessidade de submeter todo indivíduo com incidentaloma adrenal à avaliação hormonal.

A secreção autônoma de cortisol foi a alteração hormonal mais frequente (18,9%), seguida pelo hiperaldosteronismo (11,8%). No entanto, nem todos os pacientes concordaram em continuar a pesquisa com a realização da avaliação hormonal. Considerando que aqueles que não completaram o seguimento eram mais velhos e tinham mais hipertensão, supõe-se que a prevalência de secreção autônoma de cortisol e de hiperaldosteronismo primário no estudo foi subestimada.

Vale ressaltar que nenhum caso de carcinoma ou de feocromocitoma foi encontrado. Este último achado nos chama a atenção, uma vez que a recomendação atual da maioria das diretrizes é afastar o diagnóstico de feocromocitoma em todo indivíduo com incidentaloma adrenal independente da presença ou não de hipertensão.

Vale ressaltar, no entanto, que o estudo foi desenvolvido em uma população chinesa e, talvez, diferenças étnicas possam influenciar na prevalência de massas adrenais, assim como na frequência de secreção autônoma. Seria interessante que estudos semelhantes fossem conduzidos em populações ocidentais.

De toda a forma, embora a prevalência encontrada seja menor do que a descrita anteriormente, este estudo reforça a necessidade de sempre investigar a funcionalidade de nódulos adrenais com 1cm ou mais encontrados incidentalmente. Assim como confirma a maior prevalência de massas adrenais em indivíduos mais idosos, o que deve sempre ser levado em consideração quando buscamos tumores adrenais em indivíduos mais velhos com diagnóstico de hipercortisolismo ou hiperaldosteronismo.