Hipotireoidismo Subclínico: temos novidades?

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Funçao tireoidiana

Hipotireoidismo, a deficiência do hormônio tireoidiano, é uma condição comum em todo o mundo. Afeta quase todos os sistemas e tem uma ampla variedade de apresentações clínicas, desde assintomáticas até, em casos raros, risco de vida.

Os sintomas clássicos do hipotireoidismo incluem fadiga, letargia, ganho de peso e intolerância ao frio; No entanto, esses sintomas são inespecíficos e o diagnóstico geralmente é feito por exames bioquímicos através dos testes de função tireoidiana – principalmente TSH, T4 livre. A causa mais comum de hipotireoidismo é a tireoidite autoimune crônica (tireoidite de Hashimoto, embora outras causas, incluindo medicamentos (como amiodarona, lítio e inibidores de checkpoint imune), tratamento com iodo radioativo e cirurgia da tireoide também sejam causas frequentes.

A maioria dos casos de hipotireoidismo é classificada como primária, ou seja, decorrente de falha da glândula tireoide para produzir hormônio tireoidiano suficiente. Laboratorialmente, observamos níveis elevados de TSH e suprimidos de T4 livre. O objetivo principal do tratamento do hipotireoidismo é a normalização dos níveis de TSH, com o uso de doses ajustadas de levotiroxina. Já o hipotireoidismo subclínico é definido como um TSH acima da faixa de referência, com níveis normais de T4 livre. As indicações e objetivos do tratamento nos casos subclínicos ainda seguem motivo de controvérsia.

A última diretriz brasileira sobre o tema data de 2013 e sugere o tratamento para pacientes com idade < 65 anos nos casos de suspeita de progressão (TSH ascendente, anti-TPO positivo, alterações ultrassonograficas), pacientes com risco cardiovascular aumentado e TSH > 7mUI/L ou que tenham sintomas compatíveis com hipotireoidismo. Já para aqueles com idade ≥ 65 anos, o tratamento seria restrito para casos com TSH ≥ 10 mUI/L. Revisões mais recentes propõem que em indivíduos mais idosos (> 80 anos), a doença subclínica não seja tratada.

Artigo de revisão publicado recentemente na renomada revista The Lancet traz algumas posições distintas. O texto destaca que não há evidências claras que demonstrem benefícios no tratamento do hipotireoidismo subclínico em idosos (>65 anos) em termos de função neurocognitiva, qualidade de vida e fadiga. Além disso, reforça que o hipotireoidismo subclínico está associado ao aumento do risco de mortalidade cardiovascular em jovens (<65 anos), mas não em indivíduos mais velhos (≥65 anos). O tratamento excessivo em indivíduos mais velhos aumenta o risco de atrial fibrilação e osteoporose, complicações que são muito comuns nessa faixa etária. Neste ponto uma observação, um estudo brasileiro verificou que até 15% das pessoas em uso de levotiroxina apresentavam níveis suprimidos de TSH, indicando tratamento excessivo.

Apesar de todos esses pontos, o artigo recomenda em seu fluxograma “considerar” o tratamento em pacientes idosos com hipotireoidismo subclínico diante de sintomas atribuíveis ao hipotiroidismo, positividade de anti-TPO, níveis crescentes de TSH ou T4 livre no limite inferior da normalidade e na presença de fatores de risco para doença coronariana. Além disso, recomenda tratar casos com TSH > 10 mUI/L. Trata-se de um artigo único, com recomendações baseadas em opiniões de especialistas, porém em tópicos onde dados mais robustos ainda são escassos. Aguardamos novos estudos e posicionamentos, mas seguimos adotando as posições tradicionais do departamento de tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).