Hipotireoidismo aumenta risco de demência?

Compartilhe

O hipotireoidismo é uma doença endócrina crônica comum, que tem sido associada a várias condições, com destaque para as doenças cardiovasculares e neuropsiquiátricas, dentre elas o déficit cognitivo. Estudar tal associação é de suma importância uma vez que a prevalência de indivíduos com demência tem aumentado em todo o mundo e, desta forma, torna-se fundamental a identificação de fatores de risco para essa condição.

Buscando entender a associação entre disfunções tireoidianas e demência, pesquisadores de Taiwan conduziram um estudo de caso-controle, de base populacional incluindo participantes adultos (n = 15.686). Metade dos participantes havia sido diagnosticada com demência entre 2006 e 2013 (idade média de 74,9 anos), enquanto a outra metade não tinha demência (idade média de 74,5 anos). Foram registrados os diagnósticos de hipotireoidismo ou hipertireoidismo que ocorreram anteriormente ao diagnóstico do quadro demencial.

Os resultados indicaram uma associação significativa entre história de hipotireoidismo e risco de demência em pacientes com idade maior ou igual a 65 anos (aOR, 1,81 [IC 95%, 1,14-2,87]; p = 0,011). No entanto, esse aumento no risco não foi observado entre aqueles com 50 anos ou mais, mas com menos de 65 anos de idade. No que se refere ao risco de demência com base na história de hipertireoidismo, não foram observadas associações estatisticamente significativas.

Durante a análise do subgrupo de pacientes com 65 anos ou mais, os pesquisadores descobriram que a associação entre demência e distúrbios da tireoide foi a mais significativa entre aqueles com hipotireoidismo que estavam em tratamento (aOR, 3,17; IC 95%, 1,04 - 9,69; p = 0,043) quando comparados àqueles com hipotireoidismo que não tomavam a medicação.

Apesar do estudo ter apresentado dados relevantes, devemos lembrar do caráter observacional do mesmo, de modo que não há como estabelecer ainda uma relação de causalidade entre hipotireoidismo e demência. Quanto à associação entre o tratamento do hipotireoidismo e risco de demência, tal achado provavelmente se deve à maior gravidade da disfunção tireoidiana nos pacientes que necessitaram de terapia específica.