GLP-1 RAs e Saúde Mental: nova metanálise avaliou risco psiquiátrico e apontou benefícios emocionais

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Foi publicada no JAMA Psychiatry (maio de 2025) uma ampla metanálise avaliando os efeitos dos agonistas do receptor de GLP-1 (GLP-1 RAs) sobre desfechos psiquiátricos, comportamentais e de qualidade de vida em pacientes com diabetes tipo 2 e/ou obesidade. O estudo, conduzido envolveu 80 ensaios clínicos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo, totalizando 107.860 indivíduos. Trata-se da análise mais robusta até o momento sobre o tema, justamente no contexto de preocupação crescente com possíveis riscos de suicidabilidade associados a essa classe terapêutica.

A metanálise não encontrou associação entre o uso de GLP-1 RAs e aumento de eventos psiquiátricos graves (como ideação suicida ou episódios depressivos maiores) ou não graves (ansiedade, insônia). Além disso, não se observou diferença significativa na variação de sintomas depressivos entre os grupos tratados com GLP-1 RAs e placebo, embora os autores ressaltem que muitos estudos incluídos excluíam pacientes com diagnóstico psiquiátrico prévio, o que pode ter limitado a sensibilidade para detectar efeitos nesse domínio.

Em contrapartida, observou-se melhora significativa em domínios comportamentais associados à alimentação. O uso de GLP-1 RAs esteve associado à redução de comportamento de alimentação emocional e aumento de comportamento de restrição alimentar, efeitos coerentes com a ação central do GLP-1 em vias hipotalâmicas e mesolímbicas de recompensa alimentar. Esses dados reforçam a hipótese de que parte dos benefícios terapêuticos dessa classe se deve não apenas ao retardo do esvaziamento gástrico e à saciedade periférica, mas também à modulação central do apetite.

Por fim, quanto aos desfechos cognitivos, a análise foi limitada pelo pequeno número de estudos disponíveis (n = 4), sem efeito significativo observado. Não foi possível realizar metanálises por domínios cognitivos (atenção, memória, velocidade de processamento), o que limita as conclusões nesse campo.

Em síntese, este estudo oferece evidências robustas de que os agonistas de GLP-1 não apenas são seguros do ponto de vista psiquiátrico em populações sem comorbidades mentais, mas também podem contribuir positivamente para o bem-estar emocional, o comportamento alimentar e a qualidade de vida. Esses dados reforçam a posição dos GLP-1 RAs como agentes terapêuticos de amplo espectro no manejo do diabetes tipo 2 e da obesidade, devendo o impacto psicossocial ser considerado entre seus potenciais benefícios.