Genótipo versus fenótipo no prognóstico das miocardiopatias

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Genótipo versus fenótipo no prognóstico das miocardiopatias

As cardiomiopatias são classificadas clinicamente baseando-se na sua expressão fenotípica como: hipertrófica (MCH), dilatada (MCD), arritmogênica do ventrículo direito (DAVD) e restritiva. Apesar dessas condições serem distintas, muitas vezes existe uma sobreposição de aspectos, como quadro clínico, fisiopatologia, prognósticos e fatores de riscos que podem interferir em um diagnóstico preciso da doença. O sequenciamento genético permite a identificar a causa de base da miocardiopatia dilatada e arritmogênica em aproximadamente 30-45% dos casos, contribuindo para um diagnóstico preciso e melhorando a sobrevida e prognóstico dos pacientes. (Não deixe de conferir também este nosso resumo: https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/miocardiopatia-dilatada-como-investigar-a-etiologia/). Com isso, o genótipo poderia ter um papel de estratificação no prognóstico das miocardiopatiasUm estudo recente avaliou o prognóstico de doenças baseado na classificação fenotípica versus o genótipo em uma coorte de pacientes com miocardiopatia não hipertrófica (FEVE < 50%, excluindo outras etiologias). O estudo incluiu pacientes com etiologias: dilatada, arritmogênica de VD e de VE e biventricular. O desfecho primário combinado foi: mortalidade por qualquer causa; transplante cardíaco; morte súbita cardíaca (MSC) ou arritmias ventriculares maiores (fibrilação atrial, taquicardia ventricular sustentada, choques apropriados do CDI) e desfechos em IC (morte por IC, implante de dispositivo de assistência ventricular).Foram avaliados 834 pacientes, com uma população final incluída de 281 pacientes. Um total de 6 grupos de genes foram analisados: TTN (34%), SARC (22%), FLNC 13%), PKP2 (11%), LMNA (10%) e DSP (10%). A média de idade dos pacientes foi de 42 anos e 70% do sexo masculino. A distribuição fenotípica foi de 80% com miocardiopatia dilatada, seguido de 10% da miocardiopatia arritmogênica de VD. Cada fenótipo foi associado a múltiplos genes. A maior heterogeneidade genética foi encontrada nos pacientes com MCD (6 genes).Pacientes com miocardiopatias arritmogênicas tiveram um maior numero de eventos de morte súbita/arritmias maiores em comparação com aqueles com MCD (37% vs 18%), sem diferenças nos desfechos de mortalidade por qualquer causa, transplante ou IC. Os desfechos primários foram diferentes de acordo com os genes incluídos: o gene LMNA apresentou maior risco de mortalidade por qualquer causa, transplante e desfechos de IC. Os genes DSP, PKP2, FLNC e LMNA apresentaram maior risco de morte súbita e eventos arrítmicos. Esses últimos 4 genes agrupados apresentaram um risco muito aumentado de óbito, transplante, morte súbita e arritmias em relação aos gentes TTN e SARC.As classificações baseadas no genótipo e fenótipo associadas à FEVE de base foram preditivas de morte e transplante. Por outro lado, a classificação baseada no genótipo foi associada ao risco de MSC/arritmias (HR: 2,22), enquanto classificação baseada em fenótipos não foi preditor. Para os desfechos em IC, nem o genótipo nem o fenótipo foram preditivos de risco.O estudo conclui que a classificação através do genótipo foi efetiva em predizer o risco de MSC/arritmias em relação à classificação fenotípica; entre os genes testados as variantes LMNA estiveram mais associadas a óbito/transplante e desfechos em IC quando comparado com outros genótipos. Apesar desses resultados, sabemos que muitos outros fatores interferem nos desfechos dos pacientes, como comorbidades e estilo de vida e essas variáveis também devem ser consideradas na estratificação de risco individual. Ainda não sabemos como integrar definitivamente o genótipo ao fenótipo nessa era da medicina de precisão, mas esse estudo aponta a importância do o genótipo como possível ferramenta para estratificação no prognóstico das miocardiopatias.ReferênciaPaldino A, Dal Ferro M, Stolfo D, et al. Prognostic Prediction of Genotype vs Phenotype in Genetic Cardiomyopathies. J Am Coll Cardiol. 2022 Nov, 80 (21) 1981–1994. (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0735109722069480?via%3Dihub)