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Escoriações Neuróticas: Interface Da Dermatologia E Da Psiquiatria
Escrito por
Jéssica Guido
Publicado em
19/1/2023
Apenas nesta década, as escoriações neuróticas entraram como afecção no sistema de classificação psiquiátrica. As escoriações neuróticas também são conhecidas como dermatilomania ou escoriação psicogênica e são caracterizadas pela escoriação recorrente da pele, levando a lesões cutâneas e sofrimento significativo ou comprometimento funcional.
Pode ocorrer em qualquer idade, mas geralmente coincide com o início da puberdade, e/ou em mulheres entre a 3ª e 5ª décadas A presença de afecções dermatológicas inflamatórias, como a acne, e pruriginosas, como os eczemas, podem estar presentes no mesmo paciente.
Na literatura são descritos os principais gatilhos da escolha da pele, mas que podem estar associados entre si, e variar entre os indivíduos. Estes incluem:
- emoções como estresse, raiva e ansiedade,
- atividades sedentárias, como assistir televisão e ler, tédio e sensação de cansaço.
Clinicamente, apresentam-se como lesões polimórficas, mas principalmente escoriações – ou seja, erosões traumáticas- secundárias ao ato de beslicar e coçar a pele com as unhas. A escoriação da pele pode ocorrer em qualquer área do corpo e geralmente ocorre em vários locais, mais comumente na face, seguida pelas mãos, dedos, braços e pernas. Pele saudável e pequenas irregularidades na pele também são selecionadas. É comum ocorrerem cicatrizes atrópicas e acrômicas ou hiperpigmentadas (Imagem 1).
Imagem 1 – Pápulas e máculas eritematoses e hipercrômicas por escoriações traumáticas em face.
Fonte: Enta, 1996.
Apenas 20% dos pacientes com escoriações neuróticas procuram ajuda médica. Tais escoriações podem promover possíveis sequelas/complicações como infecções secundárias, cicatrizes e até desfiguração física grave.
Essas lesões também podem estar associadas a outras comorbidades como a tricotilomania – que é a mais comum. O transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos de humor e ansiedade e o transtorno dismórfico corporal são também prevalentes. Foram documentados casos em que houve um risco aumentado de mortalidade.
A importância de se discutir sobre este assunto é de reforçar que o médico deve estar atento ao exame físico e avaliar diferentes sequelas psicossociais, como constrangimento social, evitação de situações ou atividades, onde lesões de pele podem ser detectadas e perda de produtividade em múltiplos ambientes, também foram relatadas.
O tratamento deve incluir acompanhamento psiquiátrico (alguns pacientes necessitam de tratamento farmacológico como os inibidores de recaptação de serotonina, antipsicóticos como a pimozida, agentes glutaminérgicos ou antagonistas opióides), psicológico como a Terapia Cognitiva Comportamental e a Terapia de Aceitação e Compromisso, e até tratamentos adjuvantes, como ioga, exercícios aeróbicos, acupuntura e hipnose.
REFERÊNCIAS
Lochner C, Roos A, Stein DJ. Excoriation (skin-picking) disorder: a systematic review of treatment options. Neuropsychiatr Dis Treat. 2017 Jul 14;13:1867-1872. doi: 10.2147/NDT.S121138. PMID: 28761349; PMCID: PMC5522672.
Enta T. Dermacase. Neurotic excoriation. Can Fam Physician. 1996 Sep;42:1682, 1688. PMID: 8828870; PMCID: PMC2146876.