Endocardite infecciosa: como investigar a porta de entrada para a infecção?

Compartilhe
Endocardite infecciosa: como investigar a porta de entrada para a infecção?

- Endocardite infecciosa chega a ter mortalidade intra-hospitalar de 20%.

- Até 10% dos pacientes que tiveram endocardite apresentam novo episódio da infecção ao longo da vida.

- Para diminuir o risco de recorrência da endocardite, é fundamental definir qual a porta de entrada para a infecção atual.

- Mas, como fazer este rastreamento? Que exames pedir? Que pareceres solicitar?

- Esta questão foi abordada em recente trabalho publicado no JACC.

- Os pesquisadores avaliaram todos os casos confirmados de endocardite em um hospital na França de 2005 a 2011. Foram avaliados 318 pacientes.

- Todos os pacientes eram submetidos à seguinte avaliação:

investigacao

- Além disto, os investigadores deram particular atenção ao foco usual do que determinada bactéria costuma surgir. Exemplo: Streptococus bovis comumente vem do trato gastrointestinal enquanto que Staphylococus aureus normalmente entra na corrente sanguínea por focos cutâneos, orofaringe, região perianal ou faringe.

- Resultados:

1- O sítio de entrada foi identificado em 74% dos pacientes

2- As portas de entrada mais comuns foram: focos cutâneos (40%), focos orais/dentais (29%), focos gastrointestinais (23%), focos geniurinários (4%) e focos em garganta/ouvidos ou cavidade nasal (2%).

3- Os pesquisadores incluíram em focos cutâneos pacientes com endocardite ligada a infecção de catéteres vasculares (ex: catéter central, catéter de diálise) e infeccção ligada a dispositivos implantáveis (marca-passo e CDI, por exemplo), além das causas óbvias (lesões cutâneas infectadas, pé diabético infectado, etc).

Comentários:

- Estudo com relevância prática. A procura dos focos de entrada da endocardite é fundamental e muitas vezes negligenciada na prática clínica. Temos que seguir obrigatoriamente a avaliação proposta pelos autores? Na minha opinião, não. A conduta tem que ser individualizada para cada serviço. Por exemplo, em um determinado hospital que não tenha suporte de otorrino esta avaliação pode ser possivelmente descartada uma vez que a prevalência de focos em garganta, ouvidos e cavidade nasal foi baixa no estudo. Já a avaliação por odontologista + realização de radiografia panorâmica mostra-se simples de ser realizada na maioria dos hospitais e traz índices elevados de alterações. O importante é definir-se uma rotina para o seu serviço e, se possível, documentar os casos de forma sistemática para conhecer a realidade do seu hospital. Lembrar que o estudo foi unicêntrico, ou seja, realizado em apenas um hospital da França.