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Empagliflozina é útil na insuficiência cardíaca com FE acima de 50%?
Escrito por
Maria Tereza
Publicado em
22/12/2021
Enquanto a insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER) é tratada com drogas que atuam atenuando a hiperativação dos sistemas neuro-hormonais endógenos e consequentemente aumentando a sobrevida desse grupo, as opções terapêuticas para pacientes com (ICFEP) ainda são limitadas. Embora alguns benefícios tenham sido relatados com candesartana, antagonistas do receptor de mineralocorticoide e inibidores da neprilisina, a magnitude dos efeitos foi modesta e predominante em determinados subgrupos (principalmente naqueles com fração de ejeção entre 40-49%). Os inibidores de SGLT-2 foram desenvolvidos para o controle do diabetes tipo 2, mas os resultados do DAPA-HF e EMPEROR-Reduced confirmaram o benefício claro no tratamento da ICFER, o que levou a inclusão dessa classe de drogas nas últimas diretrizes de IC. Todavia, evidências para o uso dessa classe de medicamentos na ICFEP permanecia em aberto até a publicação recente do EMPEROR-Preserved.
Este ensaio clínico incluiu paciente com FE maior ou igual a 40%, sintomáticos para serem randomizados para o uso de empagliflozina ou placebo. O inibidor de SGLT2 foi superior ao placebo no desfecho primário composto por morte cardiovascular e hospitalização por IC em pacientes com ICFEP estáveis e sintomáticos, independentemente de serem diabéticos ou não. Entretanto, 33% dos pacientes incluídos tinham uma FEVE entre 41-49%, população atualmente nomeada de ICFELR (insuficiência cardíaca de fração de ejeção levemente reduzida).
Recentemente, no ACC 2021, foi apresentada uma subanálise desse estudo no qual os resultados foram apresentados com base na fração de ejeção (FE): FE entre 41% e 49%; FE maior ou igual a 50%. O benefício no desfecho primário com o uso da empagliflozina se manteve com redução significativa na taxa de hospitalização por IC, sem diferença em mortalidade. Além disso, os pacientes tratados com o inibidor de SGLT-2 tiveram melhora significativa no KCCQ-Clinical Summary Score (KCCQ-CSS), escore que se propõe a avaliar a qualidade de vida.
O especialista em IC tende a procurar drogas que reduzam a mortalidade, pois inúmeros medicamentos surgiram ao longo dos anos apenas com benefícios sobre taxa de hospitalização. Diante de um paciente com ICFER, o cardiologista clínico sabe exatamente o que fazer, com diretrizes que guiam a terapêutica com melhora de sobrevida. Todavia quando olhamos para o subgrupo de ICFEP, pode parecer animador ter uma droga que reduziu internação, mesmo naqueles com FE acima de 50%. Entretanto, analisando apenas os resultados do estudo, seguimos carentes de drogas que beneficiam de forma substancial e inquestionável o paciente com ICFEP.